WALCYR CARRASCO. A megera domada

August 2, 2017 | Author: Rui Amorim Vilaverde | Category: N/A
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1 Tradução e adaptação WALCYR CARRASCO A megera domada de WILLIAM SHAKESPEARE Leitor cr&iacu...

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Árvores e tempo de leitura MARIA JOSÉ NÓBREGA

O que é, o que é, Uma árvore bem frondosa Doze galhos, simplesmente Cada galho, trinta frutas Com vinte e quatro sementes? 1

Tradução e adaptação

WALCYR CARRASCO

Enigmas e adivinhas convidam à decifração: “trouxeste a chave?”.

A megera domada

Encaremos o desafio: trata-se de uma árvore bem frondosa, que tem doze galhos, que têm trinta frutas, que têm vinte e quatro sementes: cada verso introduz uma nova informação que se encaixa na anterior.

de WILLIAM SHAKESPEARE Leitor crítico — 8o e 9o anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio

PROJETO DE LEITURA Elaboração: Luísa Nóbrega Coordenação: Maria José Nóbrega

Alegórica árvore do tempo… A adivinha que lemos, como todo e qualquer texto, inscreve-se, necessariamente, em um gênero socialmente construído e tem, portanto, uma relação com a exterioridade que determina as leituras possíveis. O espaço da interpretação é regulado tanto pela organização do próprio texto quanto pela memória interdiscursiva, que é social, histórica e cultural. Em lugar de pensar que a cada texto corresponde uma única leitura, é preferível pensar que há tensão entre uma leitura unívoca e outra dialógica.

Quantos galhos tem a árvore frondosa? Quantas frutas tem cada galho? Quantas sementes tem cada fruta? A resposta a cada uma dessas questões não revela o enigma. Se for familiarizado com charadas, o leitor sabe que nem sempre uma árvore é uma árvore, um galho é um galho, uma fruta é uma fruta, uma semente é uma semente… Traiçoeira, a árvore frondosa agita seus galhos, entorpece-nos com o aroma das frutas, intriga-nos com as possibilidades ocultas nas sementes.

Um texto sempre se relaciona com outros produzidos antes ou depois dele: não há como ler fora de uma perspectiva interdiscursiva. Retornemos à sombra da frondosa árvore — a árvore do tempo — e contemplemos outras árvores:

O que é, o que é?

Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores formosas de ver e boas de comer, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. (…) E Deus deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de morrer”.2

Apegar-se apenas às palavras, às vezes, é deixar escapar o sentido que se insinua nas ramagens, mas que não está ali. Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao mesmo tempo que se alonga num percurso vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes na terra. Cíclica, despe-se das folhas, abre-se em flores, que escondem frutos, que protegem sementes, que ocultam coisas futuras. “Decifra-me ou te devoro.” Qual a resposta? Vamos a ela: os anos, que se desdobram em meses, que se aceleram em dias, que escorrem em horas.

Ah, essas árvores e esses frutos, o desejo de conhecer, tão caro ao ser humano… 2

A megera domada Parte Comum.indd 1

ções interpessoais e, progressivamente, como resultado de uma série de experiências, se transforma em um processo interno.

Há o tempo das escrituras e o tempo da memória, e a leitura está no meio, no intervalo, no diálogo. Prática enraizada na experiência humana com a linguagem, a leitura é uma arte a ser compartilhada.

Somente com uma rica convivência com objetos culturais — em ações socioculturalmente determinadas e abertas à multiplicidade dos modos de ler, presentes nas diversas situações comunicativas — é que a leitura se converte em uma experiência significativa para os alunos. Porque ser leitor é inscrever-se em uma comunidade de leitores que discute os textos lidos, troca impressões e apresenta sugestões para novas leituras.

A compreensão de um texto resulta do resgate de muitos outros discursos por meio da memória. É preciso que os acontecimentos ou os saberes saiam do limbo e interajam com as palavras. Mas a memória não funciona como o disco rígido de um computador em que se salvam arquivos; é um espaço movediço, cheio de conflitos e deslocamentos.

Trilhar novas veredas é o desafio; transformar a escola numa comunidade de leitores é o horizonte que vislumbramos.

Empregar estratégias de leitura e descobrir quais são as mais adequadas para uma determinada situação constituem um processo que, inicialmente, se produz como atividade externa. Depois, no plano das rela-

Depende de nós.

__________ 1 In Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática. 2 A Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA

pertence, analisando a temática, a perspectiva com que é abordada, sua organização estrutural e certos recursos expressivos empregados pelo autor. Com esses elementos, o professor irá identificar os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento que poderão ser abordados, os temas que poderão ser discutidos e os recursos linguísticos que poderão ser explorados para ampliar a competência leitora e escritora dos alunos.

UM POUCO SOBRE O AUTOR Procuramos contextualizar o autor e sua obra no panorama da literatura brasileira para jovens e adultos. RESENHA Apresentamos uma síntese da obra para que o professor, antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa avaliar a pertinência da adoção, levando em conta as possibilidades e necessidades de seus alunos.

QUADRO-SÍNTESE O quadro-síntese permite uma visualização rápida de alguns dados a respeito da obra e de seu tratamento didático: a indicação do gênero, das palavras-chave, das áreas e temas transversais envolvidos nas atividades propostas; sugestão de leitor presumido para a obra em questão.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA Apontamos alguns aspectos da obra, considerando as características do gênero a que 3

✦ nas tramas do texto

Gênero: Palavras-chave: Áreas envolvidas: Temas transversais: Público-alvo:

• Compreensão global do texto a partir de reprodução oral ou escrita do que foi lido ou de respostas a questões formuladas pelo professor em situação de leitura compartilhada. • Apreciação dos recursos expressivos empregados na obra. • Identificação e avaliação dos pontos de vista sustentados pelo autor. • Discussão de diferentes pontos de vista e opiniões diante de questões polêmicas. • Produção de outros textos verbais ou ainda de trabalhos que contemplem as diferentes linguagens artísticas: teatro, música, artes plásticas etc.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura Os sentidos que atribuímos ao que se lê dependem, e muito, de nossas experiências anteriores em relação à temática explorada pelo texto, bem como de nossa familiaridade com a prática leitora. As atividades sugeridas neste item favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão e interpretação do escrito.

✦ nas telas do cinema • Indicação de filmes, disponíveis em DVD, que tenham alguma articulação com a obra analisada, tanto em relação à temática como à estrutura composicional.

• Explicitação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto. • Antecipação de conteúdos tratados no texto a partir da observação de indicadores como título da obra ou dos capítulos, capa, ilustração, informações presentes na quarta capa etc. • Explicitação dos conteúdos da obra a partir dos indicadores observados.

✦ nas ondas do som • Indicação de obras musicais que tenham alguma relação com a temática ou estrutura da obra analisada.

b) durante a leitura

✦ nos enredos do real

São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura, focalizando aspectos que auxiliem a construção dos sentidos do texto pelo leitor.

• Ampliação do trabalho para a pesquisa de informações complementares numa dimensão interdisciplinar. DICAS DE LEITURA

• Leitura global do texto. • Caracterização da estrutura do texto. • Identificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual. • Apreciação de recursos expressivos empregados pelo autor.

Sugestões de outros livros relacionados de alguma maneira ao que está sendo lido, estimulando o desejo de enredar-se nas veredas literárias e ler mais: ◗ do mesmo autor; ◗ sobre o mesmo assunto e gênero; ◗ leitura de desafio.

c) depois da leitura São propostas atividades para permitir melhor compreensão e interpretação da obra, indicando, quando for o caso, a pesquisa de assuntos relacionados aos conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como a reflexão a respeito de temas que permitam a inserção do aluno no debate de questões contemporâneas.

Indicação de título que se imagina além do grau de autonomia do leitor virtual da obra analisada, com a finalidade de ampliar o horizonte de expectativas do aluno-leitor, encaminhando-o para a literatura adulta.

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Árvores e tempo de leitura MARIA JOSÉ NÓBREGA

O que é, o que é, Uma árvore bem frondosa Doze galhos, simplesmente Cada galho, trinta frutas Com vinte e quatro sementes? 1

Tradução e adaptação

WALCYR CARRASCO

Enigmas e adivinhas convidam à decifração: “trouxeste a chave?”.

A megera domada

Encaremos o desafio: trata-se de uma árvore bem frondosa, que tem doze galhos, que têm trinta frutas, que têm vinte e quatro sementes: cada verso introduz uma nova informação que se encaixa na anterior.

de WILLIAM SHAKESPEARE Leitor crítico — 8o e 9o anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio

PROJETO DE LEITURA Elaboração: Luísa Nóbrega Coordenação: Maria José Nóbrega

Alegórica árvore do tempo… A adivinha que lemos, como todo e qualquer texto, inscreve-se, necessariamente, em um gênero socialmente construído e tem, portanto, uma relação com a exterioridade que determina as leituras possíveis. O espaço da interpretação é regulado tanto pela organização do próprio texto quanto pela memória interdiscursiva, que é social, histórica e cultural. Em lugar de pensar que a cada texto corresponde uma única leitura, é preferível pensar que há tensão entre uma leitura unívoca e outra dialógica.

Quantos galhos tem a árvore frondosa? Quantas frutas tem cada galho? Quantas sementes tem cada fruta? A resposta a cada uma dessas questões não revela o enigma. Se for familiarizado com charadas, o leitor sabe que nem sempre uma árvore é uma árvore, um galho é um galho, uma fruta é uma fruta, uma semente é uma semente… Traiçoeira, a árvore frondosa agita seus galhos, entorpece-nos com o aroma das frutas, intriga-nos com as possibilidades ocultas nas sementes.

Um texto sempre se relaciona com outros produzidos antes ou depois dele: não há como ler fora de uma perspectiva interdiscursiva. Retornemos à sombra da frondosa árvore — a árvore do tempo — e contemplemos outras árvores:

O que é, o que é?

Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores formosas de ver e boas de comer, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. (…) E Deus deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de morrer”.2

Apegar-se apenas às palavras, às vezes, é deixar escapar o sentido que se insinua nas ramagens, mas que não está ali. Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao mesmo tempo que se alonga num percurso vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes na terra. Cíclica, despe-se das folhas, abre-se em flores, que escondem frutos, que protegem sementes, que ocultam coisas futuras. “Decifra-me ou te devoro.” Qual a resposta? Vamos a ela: os anos, que se desdobram em meses, que se aceleram em dias, que escorrem em horas.

Ah, essas árvores e esses frutos, o desejo de conhecer, tão caro ao ser humano… 2

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ções interpessoais e, progressivamente, como resultado de uma série de experiências, se transforma em um processo interno.

Há o tempo das escrituras e o tempo da memória, e a leitura está no meio, no intervalo, no diálogo. Prática enraizada na experiência humana com a linguagem, a leitura é uma arte a ser compartilhada.

Somente com uma rica convivência com objetos culturais — em ações socioculturalmente determinadas e abertas à multiplicidade dos modos de ler, presentes nas diversas situações comunicativas — é que a leitura se converte em uma experiência significativa para os alunos. Porque ser leitor é inscrever-se em uma comunidade de leitores que discute os textos lidos, troca impressões e apresenta sugestões para novas leituras.

A compreensão de um texto resulta do resgate de muitos outros discursos por meio da memória. É preciso que os acontecimentos ou os saberes saiam do limbo e interajam com as palavras. Mas a memória não funciona como o disco rígido de um computador em que se salvam arquivos; é um espaço movediço, cheio de conflitos e deslocamentos.

Trilhar novas veredas é o desafio; transformar a escola numa comunidade de leitores é o horizonte que vislumbramos.

Empregar estratégias de leitura e descobrir quais são as mais adequadas para uma determinada situação constituem um processo que, inicialmente, se produz como atividade externa. Depois, no plano das rela-

Depende de nós.

__________ 1 In Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática. 2 A Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA

pertence, analisando a temática, a perspectiva com que é abordada, sua organização estrutural e certos recursos expressivos empregados pelo autor. Com esses elementos, o professor irá identificar os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento que poderão ser abordados, os temas que poderão ser discutidos e os recursos linguísticos que poderão ser explorados para ampliar a competência leitora e escritora dos alunos.

UM POUCO SOBRE O AUTOR Procuramos contextualizar o autor e sua obra no panorama da literatura brasileira para jovens e adultos. RESENHA Apresentamos uma síntese da obra para que o professor, antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa avaliar a pertinência da adoção, levando em conta as possibilidades e necessidades de seus alunos.

QUADRO-SÍNTESE O quadro-síntese permite uma visualização rápida de alguns dados a respeito da obra e de seu tratamento didático: a indicação do gênero, das palavras-chave, das áreas e temas transversais envolvidos nas atividades propostas; sugestão de leitor presumido para a obra em questão.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA Apontamos alguns aspectos da obra, considerando as características do gênero a que 3

✦ nas tramas do texto

Gênero: Palavras-chave: Áreas envolvidas: Temas transversais: Público-alvo:

• Compreensão global do texto a partir de reprodução oral ou escrita do que foi lido ou de respostas a questões formuladas pelo professor em situação de leitura compartilhada. • Apreciação dos recursos expressivos empregados na obra. • Identificação e avaliação dos pontos de vista sustentados pelo autor. • Discussão de diferentes pontos de vista e opiniões diante de questões polêmicas. • Produção de outros textos verbais ou ainda de trabalhos que contemplem as diferentes linguagens artísticas: teatro, música, artes plásticas etc.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura Os sentidos que atribuímos ao que se lê dependem, e muito, de nossas experiências anteriores em relação à temática explorada pelo texto, bem como de nossa familiaridade com a prática leitora. As atividades sugeridas neste item favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão e interpretação do escrito.

✦ nas telas do cinema • Indicação de filmes, disponíveis em DVD, que tenham alguma articulação com a obra analisada, tanto em relação à temática como à estrutura composicional.

• Explicitação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto. • Antecipação de conteúdos tratados no texto a partir da observação de indicadores como título da obra ou dos capítulos, capa, ilustração, informações presentes na quarta capa etc. • Explicitação dos conteúdos da obra a partir dos indicadores observados.

✦ nas ondas do som • Indicação de obras musicais que tenham alguma relação com a temática ou estrutura da obra analisada.

b) durante a leitura

✦ nos enredos do real

São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura, focalizando aspectos que auxiliem a construção dos sentidos do texto pelo leitor.

• Ampliação do trabalho para a pesquisa de informações complementares numa dimensão interdisciplinar. DICAS DE LEITURA

• Leitura global do texto. • Caracterização da estrutura do texto. • Identificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual. • Apreciação de recursos expressivos empregados pelo autor.

Sugestões de outros livros relacionados de alguma maneira ao que está sendo lido, estimulando o desejo de enredar-se nas veredas literárias e ler mais: ◗ do mesmo autor; ◗ sobre o mesmo assunto e gênero; ◗ leitura de desafio.

c) depois da leitura São propostas atividades para permitir melhor compreensão e interpretação da obra, indicando, quando for o caso, a pesquisa de assuntos relacionados aos conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como a reflexão a respeito de temas que permitam a inserção do aluno no debate de questões contemporâneas.

Indicação de título que se imagina além do grau de autonomia do leitor virtual da obra analisada, com a finalidade de ampliar o horizonte de expectativas do aluno-leitor, encaminhando-o para a literatura adulta.

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Árvores e tempo de leitura MARIA JOSÉ NÓBREGA

O que é, o que é, Uma árvore bem frondosa Doze galhos, simplesmente Cada galho, trinta frutas Com vinte e quatro sementes? 1

Tradução e adaptação

WALCYR CARRASCO

Enigmas e adivinhas convidam à decifração: “trouxeste a chave?”.

A megera domada

Encaremos o desafio: trata-se de uma árvore bem frondosa, que tem doze galhos, que têm trinta frutas, que têm vinte e quatro sementes: cada verso introduz uma nova informação que se encaixa na anterior.

de WILLIAM SHAKESPEARE Leitor crítico — 8o e 9o anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio

PROJETO DE LEITURA Elaboração: Luísa Nóbrega Coordenação: Maria José Nóbrega

Alegórica árvore do tempo… A adivinha que lemos, como todo e qualquer texto, inscreve-se, necessariamente, em um gênero socialmente construído e tem, portanto, uma relação com a exterioridade que determina as leituras possíveis. O espaço da interpretação é regulado tanto pela organização do próprio texto quanto pela memória interdiscursiva, que é social, histórica e cultural. Em lugar de pensar que a cada texto corresponde uma única leitura, é preferível pensar que há tensão entre uma leitura unívoca e outra dialógica.

Quantos galhos tem a árvore frondosa? Quantas frutas tem cada galho? Quantas sementes tem cada fruta? A resposta a cada uma dessas questões não revela o enigma. Se for familiarizado com charadas, o leitor sabe que nem sempre uma árvore é uma árvore, um galho é um galho, uma fruta é uma fruta, uma semente é uma semente… Traiçoeira, a árvore frondosa agita seus galhos, entorpece-nos com o aroma das frutas, intriga-nos com as possibilidades ocultas nas sementes.

Um texto sempre se relaciona com outros produzidos antes ou depois dele: não há como ler fora de uma perspectiva interdiscursiva. Retornemos à sombra da frondosa árvore — a árvore do tempo — e contemplemos outras árvores:

O que é, o que é?

Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores formosas de ver e boas de comer, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. (…) E Deus deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de morrer”.2

Apegar-se apenas às palavras, às vezes, é deixar escapar o sentido que se insinua nas ramagens, mas que não está ali. Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao mesmo tempo que se alonga num percurso vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes na terra. Cíclica, despe-se das folhas, abre-se em flores, que escondem frutos, que protegem sementes, que ocultam coisas futuras. “Decifra-me ou te devoro.” Qual a resposta? Vamos a ela: os anos, que se desdobram em meses, que se aceleram em dias, que escorrem em horas.

Ah, essas árvores e esses frutos, o desejo de conhecer, tão caro ao ser humano… 2

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ções interpessoais e, progressivamente, como resultado de uma série de experiências, se transforma em um processo interno.

Há o tempo das escrituras e o tempo da memória, e a leitura está no meio, no intervalo, no diálogo. Prática enraizada na experiência humana com a linguagem, a leitura é uma arte a ser compartilhada.

Somente com uma rica convivência com objetos culturais — em ações socioculturalmente determinadas e abertas à multiplicidade dos modos de ler, presentes nas diversas situações comunicativas — é que a leitura se converte em uma experiência significativa para os alunos. Porque ser leitor é inscrever-se em uma comunidade de leitores que discute os textos lidos, troca impressões e apresenta sugestões para novas leituras.

A compreensão de um texto resulta do resgate de muitos outros discursos por meio da memória. É preciso que os acontecimentos ou os saberes saiam do limbo e interajam com as palavras. Mas a memória não funciona como o disco rígido de um computador em que se salvam arquivos; é um espaço movediço, cheio de conflitos e deslocamentos.

Trilhar novas veredas é o desafio; transformar a escola numa comunidade de leitores é o horizonte que vislumbramos.

Empregar estratégias de leitura e descobrir quais são as mais adequadas para uma determinada situação constituem um processo que, inicialmente, se produz como atividade externa. Depois, no plano das rela-

Depende de nós.

__________ 1 In Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática. 2 A Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA

pertence, analisando a temática, a perspectiva com que é abordada, sua organização estrutural e certos recursos expressivos empregados pelo autor. Com esses elementos, o professor irá identificar os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento que poderão ser abordados, os temas que poderão ser discutidos e os recursos linguísticos que poderão ser explorados para ampliar a competência leitora e escritora dos alunos.

UM POUCO SOBRE O AUTOR Procuramos contextualizar o autor e sua obra no panorama da literatura brasileira para jovens e adultos. RESENHA Apresentamos uma síntese da obra para que o professor, antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa avaliar a pertinência da adoção, levando em conta as possibilidades e necessidades de seus alunos.

QUADRO-SÍNTESE O quadro-síntese permite uma visualização rápida de alguns dados a respeito da obra e de seu tratamento didático: a indicação do gênero, das palavras-chave, das áreas e temas transversais envolvidos nas atividades propostas; sugestão de leitor presumido para a obra em questão.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA Apontamos alguns aspectos da obra, considerando as características do gênero a que 3

✦ nas tramas do texto

Gênero: Palavras-chave: Áreas envolvidas: Temas transversais: Público-alvo:

• Compreensão global do texto a partir de reprodução oral ou escrita do que foi lido ou de respostas a questões formuladas pelo professor em situação de leitura compartilhada. • Apreciação dos recursos expressivos empregados na obra. • Identificação e avaliação dos pontos de vista sustentados pelo autor. • Discussão de diferentes pontos de vista e opiniões diante de questões polêmicas. • Produção de outros textos verbais ou ainda de trabalhos que contemplem as diferentes linguagens artísticas: teatro, música, artes plásticas etc.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura Os sentidos que atribuímos ao que se lê dependem, e muito, de nossas experiências anteriores em relação à temática explorada pelo texto, bem como de nossa familiaridade com a prática leitora. As atividades sugeridas neste item favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão e interpretação do escrito.

✦ nas telas do cinema • Indicação de filmes, disponíveis em DVD, que tenham alguma articulação com a obra analisada, tanto em relação à temática como à estrutura composicional.

• Explicitação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto. • Antecipação de conteúdos tratados no texto a partir da observação de indicadores como título da obra ou dos capítulos, capa, ilustração, informações presentes na quarta capa etc. • Explicitação dos conteúdos da obra a partir dos indicadores observados.

✦ nas ondas do som • Indicação de obras musicais que tenham alguma relação com a temática ou estrutura da obra analisada.

b) durante a leitura

✦ nos enredos do real

São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura, focalizando aspectos que auxiliem a construção dos sentidos do texto pelo leitor.

• Ampliação do trabalho para a pesquisa de informações complementares numa dimensão interdisciplinar. DICAS DE LEITURA

• Leitura global do texto. • Caracterização da estrutura do texto. • Identificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual. • Apreciação de recursos expressivos empregados pelo autor.

Sugestões de outros livros relacionados de alguma maneira ao que está sendo lido, estimulando o desejo de enredar-se nas veredas literárias e ler mais: ◗ do mesmo autor; ◗ sobre o mesmo assunto e gênero; ◗ leitura de desafio.

c) depois da leitura São propostas atividades para permitir melhor compreensão e interpretação da obra, indicando, quando for o caso, a pesquisa de assuntos relacionados aos conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como a reflexão a respeito de temas que permitam a inserção do aluno no debate de questões contemporâneas.

Indicação de título que se imagina além do grau de autonomia do leitor virtual da obra analisada, com a finalidade de ampliar o horizonte de expectativas do aluno-leitor, encaminhando-o para a literatura adulta.

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Árvores e tempo de leitura MARIA JOSÉ NÓBREGA

O que é, o que é, Uma árvore bem frondosa Doze galhos, simplesmente Cada galho, trinta frutas Com vinte e quatro sementes? 1

Tradução e adaptação

WALCYR CARRASCO

Enigmas e adivinhas convidam à decifração: “trouxeste a chave?”.

A megera domada

Encaremos o desafio: trata-se de uma árvore bem frondosa, que tem doze galhos, que têm trinta frutas, que têm vinte e quatro sementes: cada verso introduz uma nova informação que se encaixa na anterior.

de WILLIAM SHAKESPEARE Leitor crítico — 8o e 9o anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio

PROJETO DE LEITURA Elaboração: Luísa Nóbrega Coordenação: Maria José Nóbrega

Alegórica árvore do tempo… A adivinha que lemos, como todo e qualquer texto, inscreve-se, necessariamente, em um gênero socialmente construído e tem, portanto, uma relação com a exterioridade que determina as leituras possíveis. O espaço da interpretação é regulado tanto pela organização do próprio texto quanto pela memória interdiscursiva, que é social, histórica e cultural. Em lugar de pensar que a cada texto corresponde uma única leitura, é preferível pensar que há tensão entre uma leitura unívoca e outra dialógica.

Quantos galhos tem a árvore frondosa? Quantas frutas tem cada galho? Quantas sementes tem cada fruta? A resposta a cada uma dessas questões não revela o enigma. Se for familiarizado com charadas, o leitor sabe que nem sempre uma árvore é uma árvore, um galho é um galho, uma fruta é uma fruta, uma semente é uma semente… Traiçoeira, a árvore frondosa agita seus galhos, entorpece-nos com o aroma das frutas, intriga-nos com as possibilidades ocultas nas sementes.

Um texto sempre se relaciona com outros produzidos antes ou depois dele: não há como ler fora de uma perspectiva interdiscursiva. Retornemos à sombra da frondosa árvore — a árvore do tempo — e contemplemos outras árvores:

O que é, o que é?

Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores formosas de ver e boas de comer, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. (…) E Deus deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de morrer”.2

Apegar-se apenas às palavras, às vezes, é deixar escapar o sentido que se insinua nas ramagens, mas que não está ali. Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao mesmo tempo que se alonga num percurso vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes na terra. Cíclica, despe-se das folhas, abre-se em flores, que escondem frutos, que protegem sementes, que ocultam coisas futuras. “Decifra-me ou te devoro.” Qual a resposta? Vamos a ela: os anos, que se desdobram em meses, que se aceleram em dias, que escorrem em horas.

Ah, essas árvores e esses frutos, o desejo de conhecer, tão caro ao ser humano… 2

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ções interpessoais e, progressivamente, como resultado de uma série de experiências, se transforma em um processo interno.

Há o tempo das escrituras e o tempo da memória, e a leitura está no meio, no intervalo, no diálogo. Prática enraizada na experiência humana com a linguagem, a leitura é uma arte a ser compartilhada.

Somente com uma rica convivência com objetos culturais — em ações socioculturalmente determinadas e abertas à multiplicidade dos modos de ler, presentes nas diversas situações comunicativas — é que a leitura se converte em uma experiência significativa para os alunos. Porque ser leitor é inscrever-se em uma comunidade de leitores que discute os textos lidos, troca impressões e apresenta sugestões para novas leituras.

A compreensão de um texto resulta do resgate de muitos outros discursos por meio da memória. É preciso que os acontecimentos ou os saberes saiam do limbo e interajam com as palavras. Mas a memória não funciona como o disco rígido de um computador em que se salvam arquivos; é um espaço movediço, cheio de conflitos e deslocamentos.

Trilhar novas veredas é o desafio; transformar a escola numa comunidade de leitores é o horizonte que vislumbramos.

Empregar estratégias de leitura e descobrir quais são as mais adequadas para uma determinada situação constituem um processo que, inicialmente, se produz como atividade externa. Depois, no plano das rela-

Depende de nós.

__________ 1 In Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática. 2 A Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA

pertence, analisando a temática, a perspectiva com que é abordada, sua organização estrutural e certos recursos expressivos empregados pelo autor. Com esses elementos, o professor irá identificar os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento que poderão ser abordados, os temas que poderão ser discutidos e os recursos linguísticos que poderão ser explorados para ampliar a competência leitora e escritora dos alunos.

UM POUCO SOBRE O AUTOR Procuramos contextualizar o autor e sua obra no panorama da literatura brasileira para jovens e adultos. RESENHA Apresentamos uma síntese da obra para que o professor, antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa avaliar a pertinência da adoção, levando em conta as possibilidades e necessidades de seus alunos.

QUADRO-SÍNTESE O quadro-síntese permite uma visualização rápida de alguns dados a respeito da obra e de seu tratamento didático: a indicação do gênero, das palavras-chave, das áreas e temas transversais envolvidos nas atividades propostas; sugestão de leitor presumido para a obra em questão.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA Apontamos alguns aspectos da obra, considerando as características do gênero a que 3

✦ nas tramas do texto

Gênero: Palavras-chave: Áreas envolvidas: Temas transversais: Público-alvo:

• Compreensão global do texto a partir de reprodução oral ou escrita do que foi lido ou de respostas a questões formuladas pelo professor em situação de leitura compartilhada. • Apreciação dos recursos expressivos empregados na obra. • Identificação e avaliação dos pontos de vista sustentados pelo autor. • Discussão de diferentes pontos de vista e opiniões diante de questões polêmicas. • Produção de outros textos verbais ou ainda de trabalhos que contemplem as diferentes linguagens artísticas: teatro, música, artes plásticas etc.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura Os sentidos que atribuímos ao que se lê dependem, e muito, de nossas experiências anteriores em relação à temática explorada pelo texto, bem como de nossa familiaridade com a prática leitora. As atividades sugeridas neste item favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão e interpretação do escrito.

✦ nas telas do cinema • Indicação de filmes, disponíveis em DVD, que tenham alguma articulação com a obra analisada, tanto em relação à temática como à estrutura composicional.

• Explicitação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto. • Antecipação de conteúdos tratados no texto a partir da observação de indicadores como título da obra ou dos capítulos, capa, ilustração, informações presentes na quarta capa etc. • Explicitação dos conteúdos da obra a partir dos indicadores observados.

✦ nas ondas do som • Indicação de obras musicais que tenham alguma relação com a temática ou estrutura da obra analisada.

b) durante a leitura

✦ nos enredos do real

São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura, focalizando aspectos que auxiliem a construção dos sentidos do texto pelo leitor.

• Ampliação do trabalho para a pesquisa de informações complementares numa dimensão interdisciplinar. DICAS DE LEITURA

• Leitura global do texto. • Caracterização da estrutura do texto. • Identificação das articulações temporais e lógicas responsáveis pela coesão textual. • Apreciação de recursos expressivos empregados pelo autor.

Sugestões de outros livros relacionados de alguma maneira ao que está sendo lido, estimulando o desejo de enredar-se nas veredas literárias e ler mais: ◗ do mesmo autor; ◗ sobre o mesmo assunto e gênero; ◗ leitura de desafio.

c) depois da leitura São propostas atividades para permitir melhor compreensão e interpretação da obra, indicando, quando for o caso, a pesquisa de assuntos relacionados aos conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como a reflexão a respeito de temas que permitam a inserção do aluno no debate de questões contemporâneas.

Indicação de título que se imagina além do grau de autonomia do leitor virtual da obra analisada, com a finalidade de ampliar o horizonte de expectativas do aluno-leitor, encaminhando-o para a literatura adulta.

4

6/24/14 3:34 PM

É cronista de revistas semanais e membro da Academia Paulista de Letras, onde recebeu o título de Imortal.

se trate de uma comédia, ela ganha um tom um tanto brutal em nossos dias, uma vez que as personagens femininas são repetidas vezes coagidas por maridos e pais a fazerem suas vontades – são seres que, na medida do possível, devem tornar-se maleáveis, desprovidas de vontade própria. O texto, como se vê, pode fomentar um sem-número de discussões relevantes. Além disso, podemos encontrar nessa peça alguns dos recursos mais recorrentes na dramaturgia shakespereana, como os quiprocós gerados por trocas de identidade, as narrativas paralelas, que criam um jogo de espelhamento entre as trajetórias dos diferentes casais, e assim por diante.

RESENHA

Tradução e adaptação

WALCYR CARRASCO A megera domada de WILLIAM SHAKESPEARE o

o

Leitor crítico — 8 e 9 anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio

então os clássicos Hamlet, Rei Lear e  Macbeth. No total, escreveu cerca de 40 peças.

UM POUCO SOBRE O AUTOR Considerado o maior autor de língua inglesa, William Shakespeare nasceu em 1564, na Inglaterra. Desde cedo começou a ler autores clássicos, novelas, contos e crônicas, que foram fundamentais na sua formação de poeta e dramaturgo. Aos 18 anos, casou-se com Anne Hathaway e, em 1591, partiu para Londres tentando encontrar o caminho profissional tão desejado. Trabalhou como ator, dramaturgo e dono da companhia teatral Lord Chamberlain’s Men, depois consagrada como King’s Men. Escreveu pelo menos 150 sonetos, mas sua fama foi conquistada não por seus poemas, e sim por suas peças. Shakespeare escreveu comédias alegres, dramas históricos e tragédias no estilo renascentista. Depois, passou a se dedicar especialmente ao estilo trágico, quando surgem

UM POUCO SOBRE O TRADUTOR E ADAPTADOR Walcyr Carrasco nasceu em 1951, em Bernardino, de Campos, SP. Escritor, cronista, dramaturgo e roteirista, com diversos trabalhos premiados, formou-se na Escola de Comunicação e Artes de São Paulo. Por muitos anos trabalhou como jornalista nos maiores veículos de comunicação de São Paulo, ao mesmo tempo que iniciava sua carreira de escritor na revista Recreio. Desde então, escreveu diversas novelas, peças de teatro e publicou mais de trinta livros infantojuvenis, tendo recebido por suas obras muitos prêmios ao longo da carreira. 5

Enc A megera domada2.indd 1

Muitos eram os pretendentes que disputavam a mão da bela e delicada Bianca – todos eles, contudo, viam-se frustrados pela obstinação do pai da moça, que insistia em só oferecer sua mão em casamento depois de ver casada sua irmã mais velha, Catarina, conhecida por seu gênio difícil. Dois dos mais insistentes pretendentes decidem, então, encontrar um marido para essa garota um tanto selvagem – que possui, contudo, um bom dote. O candidato perfeito é o rude Petrúquio, que, de imediato, aceita a proposta e decide casar-se a qualquer custo. O enredo se desenrola, a partir de então, em dois núcleos: as estratégias um tanto brutais que Petrúquio elabora para “domar” sua noiva Catarina e a pequena confusão armada pelos pretendentes de Bianca, que se disfarçam de professores de música e filosofia para aproximarem-se da amada a despeito da proibição de seu pai. Petrúquio, que chega atrasado à cerimônia de seu casamento, vestido em andrajos, pragueja diante do padre, beija sem pudores a moça em público, deixa Catarina dias sem comer e sem dormir, mostra-se de uma grosseria e autoritarismo inflexíveis. Ao final da trama, Catarina mostra-se a mais obediente das esposas e chega a fazer um discurso aconselhando sua irmã e outra recém-casada a respeitar o marido delas. Nesta edição, encontramos a narrativa clássica em duas versões: em forma de peça de teatro, numa tradução do original de Shakespeare, e na adaptação em prosa de Walcyr Carrasco, permitindo que o jovem leitor se familiarize com as diferenças entre um gênero e outro. A apresentação cuidadosa de Marisa Lajolo situa o leitor no tempo, refazendo a trajetória da recepção das obras do autor em terras brasileiras. Se em muitas das peças de Shakespeare questões culturais e históricas como a falta de liberdade de escolha das mulheres se tornam evidentes, no caso de A megera domada elas se tornam inescapáveis, já que constituem o núcleo temático central da narrativa. Ainda que

QUADRO-SÍNTESE Gênero: peça de teatro, novela. Palavras-chave: paixão, casamento, disputas, machismo, tradição. Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Artes, História. Temas transversais: Ética, Orientação Sexual. Público-alvo: leitor crítico (8o e 9o anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio).

PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura 1. Mostre aos alunos a capa do livro. É bem provável que a maioria deles já tenha ouvido falar de William Shakespeare. Que peças do bardo conhecem? Será que já assistiram a alguma adaptação de suas obras para o cinema? 2. Leia com a turma o texto de apresentação de Marisa Lajolo, que fornece algumas informações a propósito de Shakespeare e da recepção de sua obra no Brasil. Se achar pertinente, proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito do ator João Caetano. 3. Ainda na apresentação de Lajolo, lemos: “Numa bela noite carioca, sentado na plateia, estava ninguém menos do que o escritor Machado de Assis”. Chame a atenção para a expressão ninguém menos, que evidencia a importância fundamental de Machado no panorama cultural 6

Depois da leitura

brasileiro. Se achar oportuno, proponha uma pesquisa a respeito da vida e obra do escritor. 4. Chame a atenção da turma para a linha do tempo que se segue à apresentação. Estimule-os a folhear com atenção o painel de imagens das páginas seguintes, em que se encontram imagens da cidade natal do bardo, do Globe Theatre, onde o autor encenava suas obras, capas de livros lançados em momentos distintos da história e fotografias de adaptações encenadas no teatro, na dança e no cinema. 5. Em seguida, peça que leiam a apresentação de Walcyr Carrasco, em que o autor justifica sua escolha por essa obra e a opção de publicá-la na forma de teatro e em prosa. Quais as diferenças entre o gênero dramático e o narrativo?

1. O gênero dramático é peculiar porque o texto só se completa com a encenação: que tal nos aproximarmos mais dela? Organize com a turma uma leitura dramática da peça, em que cada aluno fica responsável por um dos papéis. Os alunos que não tiverem papéis devem dividir-se em pequenos grupos para cuidar da sonoplastia e dos figurinos. Reserve algumas aulas para os ensaios e, caso os alunos se sintam confortáveis, proponha que realizem uma apresentação aberta para toda a escola. 2. Leia com os alunos o texto Quem foi William Shakespeare, que começa na página 193. No último parágrafo do texto, lemos: “Muitas hipóteses foram levantadas por estudiosos com relação à não existência de Shakespeare, até a de que suas obras pertenciam a outros autores”. Proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito dessas diferentes teorias.

Durante a leitura 1. No texto de apresentação, na seção Cuidado, leitoras...! Marisa Lajolo comenta como, desde o título da obra, existe uma desqualificação da figura feminina, que revela os valores e costumes da época. Proponha que os alunos (em especial, as alunas) estejam atentos aos muitos momentos da peça em que as mulheres são desqualificadas.

3. Traduzir Shakespeare não é uma tarefa simples: vá em busca de diferentes traduções da peça para o português (como a de Bárbara Heliodora, a de Millôr Fernandes e a de Carlos Alberto Nunes) e selecione uma das cenas para ler com a turma em ao menos três traduções diferentes. De uma para a outra, o que se modifica? Qual delas, na opinião da turma, funcionaria melhor em uma encenação teatral?

2. Marisa Lajolo comenta, ainda: “Batista (pai de Catarina) e Petrúquio (marido de Catarina) são as figuras através das quais se delineia com mais nitidez o patriarcalismo do mundo de Shakespeare”. Diga aos alunos que prestem atenção às atitudes autoritárias dos dois personagens.

6. Ainda que a mulher tenha conseguido bastante espaço, se compararmos sua situação àquela da época de Shakespeare, o machismo ainda se faz bastante presente no Brasil e de modo alarmante – compartilhe com os alunos os dados presentes no link http://www.compromissoeatitude.org. br/alguns-numeros-sobre-a-violencia-contra-asmulheres-no-brasil/. Proponha que os alunos prestem atenção a programas de televisão, impressos, anúncios de publicidade e outros meios, e procurem reunir alguns em que a figura da mulher seja desqualificada, como se seu principal objetivo fosse casar-se e sua principal função fosse corresponder ao desejo masculino. 7. Em sua apresentação, Carrasco comenta: “o texto permite a adaptação para qualquer época. É possível, por exemplo, montar a peça como se acontecesse hoje em dia em uma grande cidade. Ou no campo, ou no Brasil do século passado… enfim, o que vale é a imaginação”. Divida a turma em duplas com o seguinte desafio: se eles fossem adaptar essa peça para uma outra época, qual escolheriam? Proponha que reescrevam uma cena de livre escolha no contexto escolhido. Dê-lhes liberdade total para modificar o que desejarem. 8. Proponha que os alunos escolham outra comédia de Shakespeare (A comédia dos erros, O conto de inverno, Como gostais ou outra que lhe parecer mais interessante), leiam a peça e, em seguida,

escrevam uma versão da narrativa em prosa, seguindo o exemplo de Walcyr Carrasco.

DICAS DE LEITURA ◗ do adaptador Viagem ao centro da terra. São Paulo: Moderna. A volta ao mundo em 80 dias. São Paulo: Moderna. A dama das Camélias. São Paulo: Moderna. Os miseráveis. São Paulo: Moderna. Dom Quixote. São Paulo: Moderna.

◗ do mesmo autor e gênero Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, tradução e adaptação de Walcyr Carrasco. São Paulo: Moderna. Hamlet, de William Shakespeare, tradução de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM. Romeu e Julieta, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viegas-Faria. Porto Alegre: L&PM. A tempestade, de William Shakespeare, tradução de Luis Camargo. São Paulo: FTD. Como gostais/ Conto de inverno, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viegas-Faria. Porto Alegre: L&PM.

4. Assista com a turma à adaptação de A megera domada, feita por Franco Zeffirelli, de 1967, com Elizabeth Taylor no papel de Catarina, distribuída pela Sony Pictures. Trata-se de uma adaptação clássica, bastante fiel ao original de Shakespeare.

3. Convide-os a prestar atenção à maneira como um texto dramático se estrutura: com a lista de personagens no início do texto, divisões em atos e cenas, o nome dos personagens antes das falas e rubricas destacadas indicando movimentos, entradas e saídas dos personagens.

5. Na apresentação de Walcyr Carrasco, o autor comenta como, ao adaptar a peça de Shakespeare para a linguagem das telenovelas, transportou-a para os anos 1920, fazendo de Catarina uma feminista e Petrúquio um machão com ideias tradicionais a respeito do papel da mulher na sociedade. De fato, a liberdade de escolha que as mulheres têm em nossos dias só foi conquistada por conta da luta do movimento feminista. Proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito da história do feminismo, procurando saber quando foi que a mulher conseguiu o direito de votar, de divorciar-se, de denunciar a violência doméstica.

4. Proponha que os alunos prestem atenção aos momentos em que confusões de troca de identidade e narrativas paralelas povoam a trama. 5. Ao ler a versão em prosa de Walcyr Carrasco, sugira que prestem atenção ao modo como o autor recria a trama. Que passagens desenvolve? Que passagens condensa? Como imagina os pensamentos das personagens? 7

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É cronista de revistas semanais e membro da Academia Paulista de Letras, onde recebeu o título de Imortal.

se trate de uma comédia, ela ganha um tom um tanto brutal em nossos dias, uma vez que as personagens femininas são repetidas vezes coagidas por maridos e pais a fazerem suas vontades – são seres que, na medida do possível, devem tornar-se maleáveis, desprovidas de vontade própria. O texto, como se vê, pode fomentar um sem-número de discussões relevantes. Além disso, podemos encontrar nessa peça alguns dos recursos mais recorrentes na dramaturgia shakespereana, como os quiprocós gerados por trocas de identidade, as narrativas paralelas, que criam um jogo de espelhamento entre as trajetórias dos diferentes casais, e assim por diante.

RESENHA

Tradução e adaptação

WALCYR CARRASCO A megera domada de WILLIAM SHAKESPEARE o

o

Leitor crítico — 8 e 9 anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio

então os clássicos Hamlet, Rei Lear e  Macbeth. No total, escreveu cerca de 40 peças.

UM POUCO SOBRE O AUTOR Considerado o maior autor de língua inglesa, William Shakespeare nasceu em 1564, na Inglaterra. Desde cedo começou a ler autores clássicos, novelas, contos e crônicas, que foram fundamentais na sua formação de poeta e dramaturgo. Aos 18 anos, casou-se com Anne Hathaway e, em 1591, partiu para Londres tentando encontrar o caminho profissional tão desejado. Trabalhou como ator, dramaturgo e dono da companhia teatral Lord Chamberlain’s Men, depois consagrada como King’s Men. Escreveu pelo menos 150 sonetos, mas sua fama foi conquistada não por seus poemas, e sim por suas peças. Shakespeare escreveu comédias alegres, dramas históricos e tragédias no estilo renascentista. Depois, passou a se dedicar especialmente ao estilo trágico, quando surgem

UM POUCO SOBRE O TRADUTOR E ADAPTADOR Walcyr Carrasco nasceu em 1951, em Bernardino, de Campos, SP. Escritor, cronista, dramaturgo e roteirista, com diversos trabalhos premiados, formou-se na Escola de Comunicação e Artes de São Paulo. Por muitos anos trabalhou como jornalista nos maiores veículos de comunicação de São Paulo, ao mesmo tempo que iniciava sua carreira de escritor na revista Recreio. Desde então, escreveu diversas novelas, peças de teatro e publicou mais de trinta livros infantojuvenis, tendo recebido por suas obras muitos prêmios ao longo da carreira. 5

Enc A megera domada2.indd 1

Muitos eram os pretendentes que disputavam a mão da bela e delicada Bianca – todos eles, contudo, viam-se frustrados pela obstinação do pai da moça, que insistia em só oferecer sua mão em casamento depois de ver casada sua irmã mais velha, Catarina, conhecida por seu gênio difícil. Dois dos mais insistentes pretendentes decidem, então, encontrar um marido para essa garota um tanto selvagem – que possui, contudo, um bom dote. O candidato perfeito é o rude Petrúquio, que, de imediato, aceita a proposta e decide casar-se a qualquer custo. O enredo se desenrola, a partir de então, em dois núcleos: as estratégias um tanto brutais que Petrúquio elabora para “domar” sua noiva Catarina e a pequena confusão armada pelos pretendentes de Bianca, que se disfarçam de professores de música e filosofia para aproximarem-se da amada a despeito da proibição de seu pai. Petrúquio, que chega atrasado à cerimônia de seu casamento, vestido em andrajos, pragueja diante do padre, beija sem pudores a moça em público, deixa Catarina dias sem comer e sem dormir, mostra-se de uma grosseria e autoritarismo inflexíveis. Ao final da trama, Catarina mostra-se a mais obediente das esposas e chega a fazer um discurso aconselhando sua irmã e outra recém-casada a respeitar o marido delas. Nesta edição, encontramos a narrativa clássica em duas versões: em forma de peça de teatro, numa tradução do original de Shakespeare, e na adaptação em prosa de Walcyr Carrasco, permitindo que o jovem leitor se familiarize com as diferenças entre um gênero e outro. A apresentação cuidadosa de Marisa Lajolo situa o leitor no tempo, refazendo a trajetória da recepção das obras do autor em terras brasileiras. Se em muitas das peças de Shakespeare questões culturais e históricas como a falta de liberdade de escolha das mulheres se tornam evidentes, no caso de A megera domada elas se tornam inescapáveis, já que constituem o núcleo temático central da narrativa. Ainda que

QUADRO-SÍNTESE Gênero: peça de teatro, novela. Palavras-chave: paixão, casamento, disputas, machismo, tradição. Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Artes, História. Temas transversais: Ética, Orientação Sexual. Público-alvo: leitor crítico (8o e 9o anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio).

PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura 1. Mostre aos alunos a capa do livro. É bem provável que a maioria deles já tenha ouvido falar de William Shakespeare. Que peças do bardo conhecem? Será que já assistiram a alguma adaptação de suas obras para o cinema? 2. Leia com a turma o texto de apresentação de Marisa Lajolo, que fornece algumas informações a propósito de Shakespeare e da recepção de sua obra no Brasil. Se achar pertinente, proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito do ator João Caetano. 3. Ainda na apresentação de Lajolo, lemos: “Numa bela noite carioca, sentado na plateia, estava ninguém menos do que o escritor Machado de Assis”. Chame a atenção para a expressão ninguém menos, que evidencia a importância fundamental de Machado no panorama cultural 6

Depois da leitura

brasileiro. Se achar oportuno, proponha uma pesquisa a respeito da vida e obra do escritor. 4. Chame a atenção da turma para a linha do tempo que se segue à apresentação. Estimule-os a folhear com atenção o painel de imagens das páginas seguintes, em que se encontram imagens da cidade natal do bardo, do Globe Theatre, onde o autor encenava suas obras, capas de livros lançados em momentos distintos da história e fotografias de adaptações encenadas no teatro, na dança e no cinema. 5. Em seguida, peça que leiam a apresentação de Walcyr Carrasco, em que o autor justifica sua escolha por essa obra e a opção de publicá-la na forma de teatro e em prosa. Quais as diferenças entre o gênero dramático e o narrativo?

1. O gênero dramático é peculiar porque o texto só se completa com a encenação: que tal nos aproximarmos mais dela? Organize com a turma uma leitura dramática da peça, em que cada aluno fica responsável por um dos papéis. Os alunos que não tiverem papéis devem dividir-se em pequenos grupos para cuidar da sonoplastia e dos figurinos. Reserve algumas aulas para os ensaios e, caso os alunos se sintam confortáveis, proponha que realizem uma apresentação aberta para toda a escola. 2. Leia com os alunos o texto Quem foi William Shakespeare, que começa na página 193. No último parágrafo do texto, lemos: “Muitas hipóteses foram levantadas por estudiosos com relação à não existência de Shakespeare, até a de que suas obras pertenciam a outros autores”. Proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito dessas diferentes teorias.

Durante a leitura 1. No texto de apresentação, na seção Cuidado, leitoras...! Marisa Lajolo comenta como, desde o título da obra, existe uma desqualificação da figura feminina, que revela os valores e costumes da época. Proponha que os alunos (em especial, as alunas) estejam atentos aos muitos momentos da peça em que as mulheres são desqualificadas.

3. Traduzir Shakespeare não é uma tarefa simples: vá em busca de diferentes traduções da peça para o português (como a de Bárbara Heliodora, a de Millôr Fernandes e a de Carlos Alberto Nunes) e selecione uma das cenas para ler com a turma em ao menos três traduções diferentes. De uma para a outra, o que se modifica? Qual delas, na opinião da turma, funcionaria melhor em uma encenação teatral?

2. Marisa Lajolo comenta, ainda: “Batista (pai de Catarina) e Petrúquio (marido de Catarina) são as figuras através das quais se delineia com mais nitidez o patriarcalismo do mundo de Shakespeare”. Diga aos alunos que prestem atenção às atitudes autoritárias dos dois personagens.

6. Ainda que a mulher tenha conseguido bastante espaço, se compararmos sua situação àquela da época de Shakespeare, o machismo ainda se faz bastante presente no Brasil e de modo alarmante – compartilhe com os alunos os dados presentes no link http://www.compromissoeatitude.org. br/alguns-numeros-sobre-a-violencia-contra-asmulheres-no-brasil/. Proponha que os alunos prestem atenção a programas de televisão, impressos, anúncios de publicidade e outros meios, e procurem reunir alguns em que a figura da mulher seja desqualificada, como se seu principal objetivo fosse casar-se e sua principal função fosse corresponder ao desejo masculino. 7. Em sua apresentação, Carrasco comenta: “o texto permite a adaptação para qualquer época. É possível, por exemplo, montar a peça como se acontecesse hoje em dia em uma grande cidade. Ou no campo, ou no Brasil do século passado… enfim, o que vale é a imaginação”. Divida a turma em duplas com o seguinte desafio: se eles fossem adaptar essa peça para uma outra época, qual escolheriam? Proponha que reescrevam uma cena de livre escolha no contexto escolhido. Dê-lhes liberdade total para modificar o que desejarem. 8. Proponha que os alunos escolham outra comédia de Shakespeare (A comédia dos erros, O conto de inverno, Como gostais ou outra que lhe parecer mais interessante), leiam a peça e, em seguida,

escrevam uma versão da narrativa em prosa, seguindo o exemplo de Walcyr Carrasco.

DICAS DE LEITURA ◗ do adaptador Viagem ao centro da terra. São Paulo: Moderna. A volta ao mundo em 80 dias. São Paulo: Moderna. A dama das Camélias. São Paulo: Moderna. Os miseráveis. São Paulo: Moderna. Dom Quixote. São Paulo: Moderna.

◗ do mesmo autor e gênero Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, tradução e adaptação de Walcyr Carrasco. São Paulo: Moderna. Hamlet, de William Shakespeare, tradução de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM. Romeu e Julieta, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viegas-Faria. Porto Alegre: L&PM. A tempestade, de William Shakespeare, tradução de Luis Camargo. São Paulo: FTD. Como gostais/ Conto de inverno, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viegas-Faria. Porto Alegre: L&PM.

4. Assista com a turma à adaptação de A megera domada, feita por Franco Zeffirelli, de 1967, com Elizabeth Taylor no papel de Catarina, distribuída pela Sony Pictures. Trata-se de uma adaptação clássica, bastante fiel ao original de Shakespeare.

3. Convide-os a prestar atenção à maneira como um texto dramático se estrutura: com a lista de personagens no início do texto, divisões em atos e cenas, o nome dos personagens antes das falas e rubricas destacadas indicando movimentos, entradas e saídas dos personagens.

5. Na apresentação de Walcyr Carrasco, o autor comenta como, ao adaptar a peça de Shakespeare para a linguagem das telenovelas, transportou-a para os anos 1920, fazendo de Catarina uma feminista e Petrúquio um machão com ideias tradicionais a respeito do papel da mulher na sociedade. De fato, a liberdade de escolha que as mulheres têm em nossos dias só foi conquistada por conta da luta do movimento feminista. Proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito da história do feminismo, procurando saber quando foi que a mulher conseguiu o direito de votar, de divorciar-se, de denunciar a violência doméstica.

4. Proponha que os alunos prestem atenção aos momentos em que confusões de troca de identidade e narrativas paralelas povoam a trama. 5. Ao ler a versão em prosa de Walcyr Carrasco, sugira que prestem atenção ao modo como o autor recria a trama. Que passagens desenvolve? Que passagens condensa? Como imagina os pensamentos das personagens? 7

6/24/14 3:35 PM

É cronista de revistas semanais e membro da Academia Paulista de Letras, onde recebeu o título de Imortal.

se trate de uma comédia, ela ganha um tom um tanto brutal em nossos dias, uma vez que as personagens femininas são repetidas vezes coagidas por maridos e pais a fazerem suas vontades – são seres que, na medida do possível, devem tornar-se maleáveis, desprovidas de vontade própria. O texto, como se vê, pode fomentar um sem-número de discussões relevantes. Além disso, podemos encontrar nessa peça alguns dos recursos mais recorrentes na dramaturgia shakespereana, como os quiprocós gerados por trocas de identidade, as narrativas paralelas, que criam um jogo de espelhamento entre as trajetórias dos diferentes casais, e assim por diante.

RESENHA

Tradução e adaptação

WALCYR CARRASCO A megera domada de WILLIAM SHAKESPEARE o

o

Leitor crítico — 8 e 9 anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio

então os clássicos Hamlet, Rei Lear e  Macbeth. No total, escreveu cerca de 40 peças.

UM POUCO SOBRE O AUTOR Considerado o maior autor de língua inglesa, William Shakespeare nasceu em 1564, na Inglaterra. Desde cedo começou a ler autores clássicos, novelas, contos e crônicas, que foram fundamentais na sua formação de poeta e dramaturgo. Aos 18 anos, casou-se com Anne Hathaway e, em 1591, partiu para Londres tentando encontrar o caminho profissional tão desejado. Trabalhou como ator, dramaturgo e dono da companhia teatral Lord Chamberlain’s Men, depois consagrada como King’s Men. Escreveu pelo menos 150 sonetos, mas sua fama foi conquistada não por seus poemas, e sim por suas peças. Shakespeare escreveu comédias alegres, dramas históricos e tragédias no estilo renascentista. Depois, passou a se dedicar especialmente ao estilo trágico, quando surgem

UM POUCO SOBRE O TRADUTOR E ADAPTADOR Walcyr Carrasco nasceu em 1951, em Bernardino, de Campos, SP. Escritor, cronista, dramaturgo e roteirista, com diversos trabalhos premiados, formou-se na Escola de Comunicação e Artes de São Paulo. Por muitos anos trabalhou como jornalista nos maiores veículos de comunicação de São Paulo, ao mesmo tempo que iniciava sua carreira de escritor na revista Recreio. Desde então, escreveu diversas novelas, peças de teatro e publicou mais de trinta livros infantojuvenis, tendo recebido por suas obras muitos prêmios ao longo da carreira. 5

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Muitos eram os pretendentes que disputavam a mão da bela e delicada Bianca – todos eles, contudo, viam-se frustrados pela obstinação do pai da moça, que insistia em só oferecer sua mão em casamento depois de ver casada sua irmã mais velha, Catarina, conhecida por seu gênio difícil. Dois dos mais insistentes pretendentes decidem, então, encontrar um marido para essa garota um tanto selvagem – que possui, contudo, um bom dote. O candidato perfeito é o rude Petrúquio, que, de imediato, aceita a proposta e decide casar-se a qualquer custo. O enredo se desenrola, a partir de então, em dois núcleos: as estratégias um tanto brutais que Petrúquio elabora para “domar” sua noiva Catarina e a pequena confusão armada pelos pretendentes de Bianca, que se disfarçam de professores de música e filosofia para aproximarem-se da amada a despeito da proibição de seu pai. Petrúquio, que chega atrasado à cerimônia de seu casamento, vestido em andrajos, pragueja diante do padre, beija sem pudores a moça em público, deixa Catarina dias sem comer e sem dormir, mostra-se de uma grosseria e autoritarismo inflexíveis. Ao final da trama, Catarina mostra-se a mais obediente das esposas e chega a fazer um discurso aconselhando sua irmã e outra recém-casada a respeitar o marido delas. Nesta edição, encontramos a narrativa clássica em duas versões: em forma de peça de teatro, numa tradução do original de Shakespeare, e na adaptação em prosa de Walcyr Carrasco, permitindo que o jovem leitor se familiarize com as diferenças entre um gênero e outro. A apresentação cuidadosa de Marisa Lajolo situa o leitor no tempo, refazendo a trajetória da recepção das obras do autor em terras brasileiras. Se em muitas das peças de Shakespeare questões culturais e históricas como a falta de liberdade de escolha das mulheres se tornam evidentes, no caso de A megera domada elas se tornam inescapáveis, já que constituem o núcleo temático central da narrativa. Ainda que

QUADRO-SÍNTESE Gênero: peça de teatro, novela. Palavras-chave: paixão, casamento, disputas, machismo, tradição. Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Artes, História. Temas transversais: Ética, Orientação Sexual. Público-alvo: leitor crítico (8o e 9o anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio).

PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura 1. Mostre aos alunos a capa do livro. É bem provável que a maioria deles já tenha ouvido falar de William Shakespeare. Que peças do bardo conhecem? Será que já assistiram a alguma adaptação de suas obras para o cinema? 2. Leia com a turma o texto de apresentação de Marisa Lajolo, que fornece algumas informações a propósito de Shakespeare e da recepção de sua obra no Brasil. Se achar pertinente, proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito do ator João Caetano. 3. Ainda na apresentação de Lajolo, lemos: “Numa bela noite carioca, sentado na plateia, estava ninguém menos do que o escritor Machado de Assis”. Chame a atenção para a expressão ninguém menos, que evidencia a importância fundamental de Machado no panorama cultural 6

Depois da leitura

brasileiro. Se achar oportuno, proponha uma pesquisa a respeito da vida e obra do escritor. 4. Chame a atenção da turma para a linha do tempo que se segue à apresentação. Estimule-os a folhear com atenção o painel de imagens das páginas seguintes, em que se encontram imagens da cidade natal do bardo, do Globe Theatre, onde o autor encenava suas obras, capas de livros lançados em momentos distintos da história e fotografias de adaptações encenadas no teatro, na dança e no cinema. 5. Em seguida, peça que leiam a apresentação de Walcyr Carrasco, em que o autor justifica sua escolha por essa obra e a opção de publicá-la na forma de teatro e em prosa. Quais as diferenças entre o gênero dramático e o narrativo?

1. O gênero dramático é peculiar porque o texto só se completa com a encenação: que tal nos aproximarmos mais dela? Organize com a turma uma leitura dramática da peça, em que cada aluno fica responsável por um dos papéis. Os alunos que não tiverem papéis devem dividir-se em pequenos grupos para cuidar da sonoplastia e dos figurinos. Reserve algumas aulas para os ensaios e, caso os alunos se sintam confortáveis, proponha que realizem uma apresentação aberta para toda a escola. 2. Leia com os alunos o texto Quem foi William Shakespeare, que começa na página 193. No último parágrafo do texto, lemos: “Muitas hipóteses foram levantadas por estudiosos com relação à não existência de Shakespeare, até a de que suas obras pertenciam a outros autores”. Proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito dessas diferentes teorias.

Durante a leitura 1. No texto de apresentação, na seção Cuidado, leitoras...! Marisa Lajolo comenta como, desde o título da obra, existe uma desqualificação da figura feminina, que revela os valores e costumes da época. Proponha que os alunos (em especial, as alunas) estejam atentos aos muitos momentos da peça em que as mulheres são desqualificadas.

3. Traduzir Shakespeare não é uma tarefa simples: vá em busca de diferentes traduções da peça para o português (como a de Bárbara Heliodora, a de Millôr Fernandes e a de Carlos Alberto Nunes) e selecione uma das cenas para ler com a turma em ao menos três traduções diferentes. De uma para a outra, o que se modifica? Qual delas, na opinião da turma, funcionaria melhor em uma encenação teatral?

2. Marisa Lajolo comenta, ainda: “Batista (pai de Catarina) e Petrúquio (marido de Catarina) são as figuras através das quais se delineia com mais nitidez o patriarcalismo do mundo de Shakespeare”. Diga aos alunos que prestem atenção às atitudes autoritárias dos dois personagens.

6. Ainda que a mulher tenha conseguido bastante espaço, se compararmos sua situação àquela da época de Shakespeare, o machismo ainda se faz bastante presente no Brasil e de modo alarmante – compartilhe com os alunos os dados presentes no link http://www.compromissoeatitude.org. br/alguns-numeros-sobre-a-violencia-contra-asmulheres-no-brasil/. Proponha que os alunos prestem atenção a programas de televisão, impressos, anúncios de publicidade e outros meios, e procurem reunir alguns em que a figura da mulher seja desqualificada, como se seu principal objetivo fosse casar-se e sua principal função fosse corresponder ao desejo masculino. 7. Em sua apresentação, Carrasco comenta: “o texto permite a adaptação para qualquer época. É possível, por exemplo, montar a peça como se acontecesse hoje em dia em uma grande cidade. Ou no campo, ou no Brasil do século passado… enfim, o que vale é a imaginação”. Divida a turma em duplas com o seguinte desafio: se eles fossem adaptar essa peça para uma outra época, qual escolheriam? Proponha que reescrevam uma cena de livre escolha no contexto escolhido. Dê-lhes liberdade total para modificar o que desejarem. 8. Proponha que os alunos escolham outra comédia de Shakespeare (A comédia dos erros, O conto de inverno, Como gostais ou outra que lhe parecer mais interessante), leiam a peça e, em seguida,

escrevam uma versão da narrativa em prosa, seguindo o exemplo de Walcyr Carrasco.

DICAS DE LEITURA ◗ do adaptador Viagem ao centro da terra. São Paulo: Moderna. A volta ao mundo em 80 dias. São Paulo: Moderna. A dama das Camélias. São Paulo: Moderna. Os miseráveis. São Paulo: Moderna. Dom Quixote. São Paulo: Moderna.

◗ do mesmo autor e gênero Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, tradução e adaptação de Walcyr Carrasco. São Paulo: Moderna. Hamlet, de William Shakespeare, tradução de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM. Romeu e Julieta, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viegas-Faria. Porto Alegre: L&PM. A tempestade, de William Shakespeare, tradução de Luis Camargo. São Paulo: FTD. Como gostais/ Conto de inverno, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viegas-Faria. Porto Alegre: L&PM.

4. Assista com a turma à adaptação de A megera domada, feita por Franco Zeffirelli, de 1967, com Elizabeth Taylor no papel de Catarina, distribuída pela Sony Pictures. Trata-se de uma adaptação clássica, bastante fiel ao original de Shakespeare.

3. Convide-os a prestar atenção à maneira como um texto dramático se estrutura: com a lista de personagens no início do texto, divisões em atos e cenas, o nome dos personagens antes das falas e rubricas destacadas indicando movimentos, entradas e saídas dos personagens.

5. Na apresentação de Walcyr Carrasco, o autor comenta como, ao adaptar a peça de Shakespeare para a linguagem das telenovelas, transportou-a para os anos 1920, fazendo de Catarina uma feminista e Petrúquio um machão com ideias tradicionais a respeito do papel da mulher na sociedade. De fato, a liberdade de escolha que as mulheres têm em nossos dias só foi conquistada por conta da luta do movimento feminista. Proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito da história do feminismo, procurando saber quando foi que a mulher conseguiu o direito de votar, de divorciar-se, de denunciar a violência doméstica.

4. Proponha que os alunos prestem atenção aos momentos em que confusões de troca de identidade e narrativas paralelas povoam a trama. 5. Ao ler a versão em prosa de Walcyr Carrasco, sugira que prestem atenção ao modo como o autor recria a trama. Que passagens desenvolve? Que passagens condensa? Como imagina os pensamentos das personagens? 7

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É cronista de revistas semanais e membro da Academia Paulista de Letras, onde recebeu o título de Imortal.

se trate de uma comédia, ela ganha um tom um tanto brutal em nossos dias, uma vez que as personagens femininas são repetidas vezes coagidas por maridos e pais a fazerem suas vontades – são seres que, na medida do possível, devem tornar-se maleáveis, desprovidas de vontade própria. O texto, como se vê, pode fomentar um sem-número de discussões relevantes. Além disso, podemos encontrar nessa peça alguns dos recursos mais recorrentes na dramaturgia shakespereana, como os quiprocós gerados por trocas de identidade, as narrativas paralelas, que criam um jogo de espelhamento entre as trajetórias dos diferentes casais, e assim por diante.

RESENHA

Tradução e adaptação

WALCYR CARRASCO A megera domada de WILLIAM SHAKESPEARE o

o

Leitor crítico — 8 e 9 anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio

então os clássicos Hamlet, Rei Lear e  Macbeth. No total, escreveu cerca de 40 peças.

UM POUCO SOBRE O AUTOR Considerado o maior autor de língua inglesa, William Shakespeare nasceu em 1564, na Inglaterra. Desde cedo começou a ler autores clássicos, novelas, contos e crônicas, que foram fundamentais na sua formação de poeta e dramaturgo. Aos 18 anos, casou-se com Anne Hathaway e, em 1591, partiu para Londres tentando encontrar o caminho profissional tão desejado. Trabalhou como ator, dramaturgo e dono da companhia teatral Lord Chamberlain’s Men, depois consagrada como King’s Men. Escreveu pelo menos 150 sonetos, mas sua fama foi conquistada não por seus poemas, e sim por suas peças. Shakespeare escreveu comédias alegres, dramas históricos e tragédias no estilo renascentista. Depois, passou a se dedicar especialmente ao estilo trágico, quando surgem

UM POUCO SOBRE O TRADUTOR E ADAPTADOR Walcyr Carrasco nasceu em 1951, em Bernardino, de Campos, SP. Escritor, cronista, dramaturgo e roteirista, com diversos trabalhos premiados, formou-se na Escola de Comunicação e Artes de São Paulo. Por muitos anos trabalhou como jornalista nos maiores veículos de comunicação de São Paulo, ao mesmo tempo que iniciava sua carreira de escritor na revista Recreio. Desde então, escreveu diversas novelas, peças de teatro e publicou mais de trinta livros infantojuvenis, tendo recebido por suas obras muitos prêmios ao longo da carreira. 5

Enc A megera domada2.indd 1

Muitos eram os pretendentes que disputavam a mão da bela e delicada Bianca – todos eles, contudo, viam-se frustrados pela obstinação do pai da moça, que insistia em só oferecer sua mão em casamento depois de ver casada sua irmã mais velha, Catarina, conhecida por seu gênio difícil. Dois dos mais insistentes pretendentes decidem, então, encontrar um marido para essa garota um tanto selvagem – que possui, contudo, um bom dote. O candidato perfeito é o rude Petrúquio, que, de imediato, aceita a proposta e decide casar-se a qualquer custo. O enredo se desenrola, a partir de então, em dois núcleos: as estratégias um tanto brutais que Petrúquio elabora para “domar” sua noiva Catarina e a pequena confusão armada pelos pretendentes de Bianca, que se disfarçam de professores de música e filosofia para aproximarem-se da amada a despeito da proibição de seu pai. Petrúquio, que chega atrasado à cerimônia de seu casamento, vestido em andrajos, pragueja diante do padre, beija sem pudores a moça em público, deixa Catarina dias sem comer e sem dormir, mostra-se de uma grosseria e autoritarismo inflexíveis. Ao final da trama, Catarina mostra-se a mais obediente das esposas e chega a fazer um discurso aconselhando sua irmã e outra recém-casada a respeitar o marido delas. Nesta edição, encontramos a narrativa clássica em duas versões: em forma de peça de teatro, numa tradução do original de Shakespeare, e na adaptação em prosa de Walcyr Carrasco, permitindo que o jovem leitor se familiarize com as diferenças entre um gênero e outro. A apresentação cuidadosa de Marisa Lajolo situa o leitor no tempo, refazendo a trajetória da recepção das obras do autor em terras brasileiras. Se em muitas das peças de Shakespeare questões culturais e históricas como a falta de liberdade de escolha das mulheres se tornam evidentes, no caso de A megera domada elas se tornam inescapáveis, já que constituem o núcleo temático central da narrativa. Ainda que

QUADRO-SÍNTESE Gênero: peça de teatro, novela. Palavras-chave: paixão, casamento, disputas, machismo, tradição. Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Artes, História. Temas transversais: Ética, Orientação Sexual. Público-alvo: leitor crítico (8o e 9o anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio).

PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura 1. Mostre aos alunos a capa do livro. É bem provável que a maioria deles já tenha ouvido falar de William Shakespeare. Que peças do bardo conhecem? Será que já assistiram a alguma adaptação de suas obras para o cinema? 2. Leia com a turma o texto de apresentação de Marisa Lajolo, que fornece algumas informações a propósito de Shakespeare e da recepção de sua obra no Brasil. Se achar pertinente, proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito do ator João Caetano. 3. Ainda na apresentação de Lajolo, lemos: “Numa bela noite carioca, sentado na plateia, estava ninguém menos do que o escritor Machado de Assis”. Chame a atenção para a expressão ninguém menos, que evidencia a importância fundamental de Machado no panorama cultural 6

Depois da leitura

brasileiro. Se achar oportuno, proponha uma pesquisa a respeito da vida e obra do escritor. 4. Chame a atenção da turma para a linha do tempo que se segue à apresentação. Estimule-os a folhear com atenção o painel de imagens das páginas seguintes, em que se encontram imagens da cidade natal do bardo, do Globe Theatre, onde o autor encenava suas obras, capas de livros lançados em momentos distintos da história e fotografias de adaptações encenadas no teatro, na dança e no cinema. 5. Em seguida, peça que leiam a apresentação de Walcyr Carrasco, em que o autor justifica sua escolha por essa obra e a opção de publicá-la na forma de teatro e em prosa. Quais as diferenças entre o gênero dramático e o narrativo?

1. O gênero dramático é peculiar porque o texto só se completa com a encenação: que tal nos aproximarmos mais dela? Organize com a turma uma leitura dramática da peça, em que cada aluno fica responsável por um dos papéis. Os alunos que não tiverem papéis devem dividir-se em pequenos grupos para cuidar da sonoplastia e dos figurinos. Reserve algumas aulas para os ensaios e, caso os alunos se sintam confortáveis, proponha que realizem uma apresentação aberta para toda a escola. 2. Leia com os alunos o texto Quem foi William Shakespeare, que começa na página 193. No último parágrafo do texto, lemos: “Muitas hipóteses foram levantadas por estudiosos com relação à não existência de Shakespeare, até a de que suas obras pertenciam a outros autores”. Proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito dessas diferentes teorias.

Durante a leitura 1. No texto de apresentação, na seção Cuidado, leitoras...! Marisa Lajolo comenta como, desde o título da obra, existe uma desqualificação da figura feminina, que revela os valores e costumes da época. Proponha que os alunos (em especial, as alunas) estejam atentos aos muitos momentos da peça em que as mulheres são desqualificadas.

3. Traduzir Shakespeare não é uma tarefa simples: vá em busca de diferentes traduções da peça para o português (como a de Bárbara Heliodora, a de Millôr Fernandes e a de Carlos Alberto Nunes) e selecione uma das cenas para ler com a turma em ao menos três traduções diferentes. De uma para a outra, o que se modifica? Qual delas, na opinião da turma, funcionaria melhor em uma encenação teatral?

2. Marisa Lajolo comenta, ainda: “Batista (pai de Catarina) e Petrúquio (marido de Catarina) são as figuras através das quais se delineia com mais nitidez o patriarcalismo do mundo de Shakespeare”. Diga aos alunos que prestem atenção às atitudes autoritárias dos dois personagens.

6. Ainda que a mulher tenha conseguido bastante espaço, se compararmos sua situação àquela da época de Shakespeare, o machismo ainda se faz bastante presente no Brasil e de modo alarmante – compartilhe com os alunos os dados presentes no link http://www.compromissoeatitude.org. br/alguns-numeros-sobre-a-violencia-contra-asmulheres-no-brasil/. Proponha que os alunos prestem atenção a programas de televisão, impressos, anúncios de publicidade e outros meios, e procurem reunir alguns em que a figura da mulher seja desqualificada, como se seu principal objetivo fosse casar-se e sua principal função fosse corresponder ao desejo masculino. 7. Em sua apresentação, Carrasco comenta: “o texto permite a adaptação para qualquer época. É possível, por exemplo, montar a peça como se acontecesse hoje em dia em uma grande cidade. Ou no campo, ou no Brasil do século passado… enfim, o que vale é a imaginação”. Divida a turma em duplas com o seguinte desafio: se eles fossem adaptar essa peça para uma outra época, qual escolheriam? Proponha que reescrevam uma cena de livre escolha no contexto escolhido. Dê-lhes liberdade total para modificar o que desejarem. 8. Proponha que os alunos escolham outra comédia de Shakespeare (A comédia dos erros, O conto de inverno, Como gostais ou outra que lhe parecer mais interessante), leiam a peça e, em seguida,

escrevam uma versão da narrativa em prosa, seguindo o exemplo de Walcyr Carrasco.

DICAS DE LEITURA ◗ do adaptador Viagem ao centro da terra. São Paulo: Moderna. A volta ao mundo em 80 dias. São Paulo: Moderna. A dama das Camélias. São Paulo: Moderna. Os miseráveis. São Paulo: Moderna. Dom Quixote. São Paulo: Moderna.

◗ do mesmo autor e gênero Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, tradução e adaptação de Walcyr Carrasco. São Paulo: Moderna. Hamlet, de William Shakespeare, tradução de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM. Romeu e Julieta, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viegas-Faria. Porto Alegre: L&PM. A tempestade, de William Shakespeare, tradução de Luis Camargo. São Paulo: FTD. Como gostais/ Conto de inverno, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viegas-Faria. Porto Alegre: L&PM.

4. Assista com a turma à adaptação de A megera domada, feita por Franco Zeffirelli, de 1967, com Elizabeth Taylor no papel de Catarina, distribuída pela Sony Pictures. Trata-se de uma adaptação clássica, bastante fiel ao original de Shakespeare.

3. Convide-os a prestar atenção à maneira como um texto dramático se estrutura: com a lista de personagens no início do texto, divisões em atos e cenas, o nome dos personagens antes das falas e rubricas destacadas indicando movimentos, entradas e saídas dos personagens.

5. Na apresentação de Walcyr Carrasco, o autor comenta como, ao adaptar a peça de Shakespeare para a linguagem das telenovelas, transportou-a para os anos 1920, fazendo de Catarina uma feminista e Petrúquio um machão com ideias tradicionais a respeito do papel da mulher na sociedade. De fato, a liberdade de escolha que as mulheres têm em nossos dias só foi conquistada por conta da luta do movimento feminista. Proponha que os alunos realizem uma pesquisa a respeito da história do feminismo, procurando saber quando foi que a mulher conseguiu o direito de votar, de divorciar-se, de denunciar a violência doméstica.

4. Proponha que os alunos prestem atenção aos momentos em que confusões de troca de identidade e narrativas paralelas povoam a trama. 5. Ao ler a versão em prosa de Walcyr Carrasco, sugira que prestem atenção ao modo como o autor recria a trama. Que passagens desenvolve? Que passagens condensa? Como imagina os pensamentos das personagens? 7

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