UM DESASSOSSEGO UM DESASSOSSEGO

February 5, 2017 | Author: João Victor Gameiro Festas | Category: N/A
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1 UM DESASSOSSEGO2 JOSÉ CARLOS BOI CEZAR FERREIRA ROSA BARREIROS Dudi Maia Rosa GISELE CAMARGO ALVARO SEIXAS Fabi...

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UM DESASSOSSEGO GALERIA ESTAÇÃO

UM DESASSOSSEGO 2016

JOSÉ CARLOS BOI CEZAR FERREIRA • ROSA BARREIROS

Dudi Maia Rosa GISELE CAMARGO • ALVARO SEIXAS

Fabio Miguez FABIOLA RACY • LÍLIA MALHEIROS

Germana Monte-Mór SANDRA MAZZINI • ELVIS ALMEIDA

Leda Catunda TAÍS CABRAL • VITOR IWASSO

Marco Giannotti MARINA HACHEM • GABRIEL PITAN GARCIA

Marina Saleme LEOPOLDO PONCE • THOMAZ ROSA

Paulo Monteiro ALEXANDRE WAGNER • GUILHERME GINANE

Paulo Pasta MARIA ANDRADE • RICARDO ALVES

Rodrigo Andrade SUIÁ FERLAUTO • SARA MÜLLER

Sérgio Sister

UM DESASSOSSEGO curadoria Germana Monte-Mór

abertura 08 de novembro19h

2016

Pinturas

A arte e a criatividade estão aí, pelo mundo. O que conhecemos de artistas é uma pequena parcela dos talentos existentes. São pessoas que, independentemente da idade, da nacionalidade e do reconhecimento, prosseguem em seu ofício porque precisam. Não se trata da necessidade financeira, mas fundamentalmente do alimento da alma. Segundo o Dicionário Aurélio,  (verbo transitivo) é: Dar existência a / Dar origem a / Imaginar / Inventar / Produzir. Os artistas bem-sucedidos o são não somente por causa do talento e da criatividade. Além desses, alguns outros fatores são imprescindíveis. Estudar, frequentar um bom ateliê, dedicar-se com afinco e profundidade são alguns deles. Segundo o artista plástico José Bechara, “o melhor lugar do mundo para o artista é o ateliê”. Mas, também é preciso sorte. Sorte no sentido mais amplo. Aquela que ajuda a abrir portas, que traz oportunidades, que faz com se esteja no lugar certo e na hora certa. Complexo, não é? Com o advento de um mercado de arte organizado, no Brasil e no mundo, mais do que nunca é preciso sorte. Ser selecionado em um concurso importante, chamar atenção por ser assistente de algum artista já conhecido, ajuda a abrir as portas de uma galeria de arte, que hoje tem um papel fundamental no chamado mercado primário, o dos artistas vivos e produzindo. Participar das feiras e exposições institucionais, um dos trabalhos a cargo das galerias, é importante para a visibilidade. Mas, como em todo mercado, também não é fácil entrar nesse.

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Falando diretamente da pintura — sobre a qual muitos arriscam a “profecia” de que seu fim está próximo, se é que já não aconteceu (que bobagem!) —, é para mostrar que ela está viva e bem que a Galeria Estação está apresentando a exposição Desassossego. Idealizada pela também artista plástica Germana Monte-Mór, que nesta exposição é curadora, a ideia me pareceu ótima! Dar oportunidade aos que estão começando, mas também àqueles que têm tido poucas oportunidades, atualmente, de mostrar sua obra. O convite a artistas de reconhecimento comprovado, como Dudi Maia Rosa, Fabio Miguez, Leda Catunda, Marco Giannotti, Marina Saleme, Paulo Monteiro, Paulo Pasta, Rodrigo Andrade e Sérgio Sister foi feito para que eles selecionassem e escrevessem, cada um, um pequeno texto sobre dois artistas. Para a Galeria Estação, e para mim pessoalmente, esta mostra é motivo de orgulho. Acredito estar com ela cumprindo uma função nesse mercado, o que me faz mais feliz. Aproveitem. Vilma Eid

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Para um pintor

Paulo Pasta

Tentar de novo. Falhar de novo. Falhar melhor Samuel Beckett

Perguntado sobre qual conselho daria a alguém decidido a se tornar pintor, Francis Bacon respondeu: “Esteja decidido também a não ter medo de bancar o idiota”. Uma resposta inesperada, principalmente vinda de um artista cujas pinturas — eu suponho — já previam os resultados que suas famosas deformações iriam atingir. Esse trajeto para uma realização mais previsível talvez o livrasse de ser pego de surpresa. De ser obrigado a retornar muitas e muitas vezes à obra. Mas esse grande artista, na maturidade, sabia também distinguir muito bem: sem erro, nenhum pintor chega a lugar algum, como atesta, talvez, o sentido principal do seu conselho. E que boa pintura se faz a partir desse acontecimento. Também poderíamos, para simplificar, chamar toda essa controvérsia de experiência. Uma palavra melhor, cujo sentido abraça o do erro e lhe confere dimensão insuspeita. Talvez seja mesmo a partir da experiência que toda pintura ganharia verdade, livrando-a das várias formas de arbítrio. Fora dela talvez não haja aprendizado, aquisição autêntica de técnica e poética. Sei também que, em nossa época, isso está um pouco fora das teses mais prementes, elas pouco acomodam essa noção. O projeto, o conceito seriam prioridades. A experiência adquirida com o fazer seria uma apostasia em relação às ideias. Ou melhor: não existiria opacidade, descobertas no percurso entre idear e realizar. Posso estar exagerando. Talvez aqui também bancando um pouco o idiota, mas penso que para um jovem pintor essa seria a única maneira de fazê-lo mover-se em direção ao que não sabe, à descoberta.

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Lembro-me da frase de Braque: “A pintura é boa quando apaga as ideias”. O apagamento seria justamente, para mim, a parte nomeadamente da arte, aquela parte do trabalho que ficou além de nós, maior que a gente, nos desafiando. Esta descoberta, esse valor, agora agregado ao trabalho, retorna a nós, nos transformando. Algo como aprender com a gente mesmo. Penso que assim caminhamos como pintores. Assim se caminha no escuro. E esse escuro, paradoxalmente, nos guia melhor também. “Livrai o pintor das falsas questões”, parece estar escrito no portal dessa estrada. Talvez fosse também algo parecido a isso que Matisse queria dizer a todo jovem pintor, quando comentou: “Comecem por cortar a língua”. Esse conselho de Matisse, hoje, teria que ser reinterpretado. Seria impossível, diante das demandas atuais da profissão e de um mundo contornados pela virtualidade, veloz, menor etc., prescindir dos argumentos, mesmo que seja para se defender desse próprio mundo. Mas acho que todo pintor entendeu o recado do Matisse: o fazer, e só ele, irá construir um artista. Mesmo porque, sem essa propriedade, todo trabalho pode tornar-se estereótipo. Harold Rosenberg, no seu Objeto ansioso, diz que todo início, toda produção primeira, seria um estereótipo. Tanto faz começar desenhando um nu ou uma faixa negra. Concordo muito com ele. Sem os valores agregados e herdados da experiência ainda não teríamos formado uma pessoalidade, “forjado um espírito”, neste enfrentamento. Fora disso, toda excelência pode ser copiada, continua o referido autor. Portanto, mãos à obra sempre. O que revigora a vida revigora também a morte, segundo o famoso verso de Walt Whitman. O caminho é longo e não vamos ouvir as sereias. Vamos desconfiar de algumas ideologias, principalmente daquelas que apostam na morte da pintura e dos inúmeros artistas que vivem de comercializar esse cadáver. Isso tudo também já se tornou uma conversa cansada. O que fica bem talvez seja descobrir, apesar de tudo, a alegria em fazer, renovadamente. Parodiando o Beckett da epígrafe, errar melhor. Esse é o meu conselho. 5

Um desassossego

Germana Monte -Mór

Embora a arte contemporânea venha nos apresentando cada vez mais novas mídias como linguagem de expressão, pondo em xeque a pintura como meio, na cena paulistana, nos últimos anos, a pintura preenche uma fatia grande dos espaços dedicados à arte, seja no mercado de arte (galerias e feiras), seja nos espaços institucionais de museus e centros culturais. O surgimento de um mercado local, impulsionado por novas galerias e pelas feiras especializadas, que colocou o Brasil, e São Paulo em particular, no circuito internacional, estimulou o crescimento de uma produção historicamente pequena. Também a retomada da pintura na década de 80 no meio de arte internacional influenciou essa tendência no contexto de uma produção brasileira, especialmente em São Paulo. A discussão da pintura que temos hoje abre um leque de possibilidades. São caminhos mais individuais de busca, diferentemente de escolas ou grupos, como em períodos anteriores: vanguardas, modernismo, neo-expressionismo e tantos outros. Agora é possível pensar a pintura de formas tão diversas convivendo com a mesma possibilidade de resultado, seja na avaliação do mercado, seja numa avaliação crítica. A construção mental de uma pintura como a de Cassio Michalany ao lado da pintura

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ordenada por gestos expressivos de Vânia Mignone, ou uma pintura hiper-realista, ou ainda o uso da fotografia como referência — e tantas outras abordagens aventadas e debatidas. Por mais que o meio de arte tenha crescido, e de fato cresceu muito nas últimas décadas, ele não dá conta de uma produção latente que foi também estimulada pela prática de cursos em ateliês que pipocam pela cidade. Existem hoje em São Paulo muitos artistas jovens com talento que ainda não conseguiram colocar sua produção para ser discutida — e muitos outros que já trilharam um percurso próprio, mas que, por razões diversas, têm mostrado pouco a sua produção recente. Esse panorama me estimulou a definir o caráter desta exposição. Para apresentá-la resolvi convidar dez pintores curadores que ajudassem a pensar estas produções, com cada um deles escolhendo dois pintores para participar, e assim sugerindo múltiplas aproximações.

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JOSÉ CARLOS BOI CEZAR FERREIRA

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Sem título, 2016 Tinta acrílica sobre tela 100 x 120 cm

Sem título, 2016 Tinta acrílica sobre tela 80 x 120 cm

Se a função dos artistas é criar as crises, como dizia o Umberto Eco, aqui temos perfeitas espécies da raça que carregam a sina do talento e da obstinação como destino. De uma forma mais bruta ou experiente, estamos sempre no mesmo lugar, o da sobrevivência. Não conheço outra coisa para colocar ou substituir esse significado. Presenciar isso é um privilégio para podermos dar-nos conta de que isso existe independente de qualquer condição, pois foram processos cozinhados na sua própria tinta e não pelo caldo institucional. Pelo atrito consigo próprios ou pela densidade, esses trabalhos foram sendo moldados pelo desgaste positivo que os levou a deixar de fora tudo que não poderiam carregar ou que a decantação do tempo tornou luminoso. Esperemos que as estrelas brilhem, pois nada é mais triste do que a indiferença aos seus brilhos.

Dudi Maia Rosa

ROSA BARREIROS

Sem título, 2012 Tinta acrílica sobre tela 77 x 80 cm

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Silêncio, 2012 Tinta acrílica sobre tela 120 x 130 cm

Deserto, 2014 Tinta acrílica sobre tela 140 x 166 cm

Rosa Barreiros tem em comum com todos os artistas que conhecemos e admiramos o talento e a obsessão. Faz processo direto sem tratos de franquia. Aqui também a figuração, como um relacionamento passional e expressivo com tudo que vive. Artista até o fim.

Dudi Maia Rosa

ALVARO SEIXAS

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Pintura sem título (Ariel encontra Caliban), 2016 Esmalte e óleo sobre linho 30 x 20 cm

Pintura sem título (O manuscrito sádico), 2016 Esmalte e óleo sobre linho 20 x 20 cm

Coabitam sem concessões, na pintura de Álvaro, a mais irascível bad painting e a mais delicada paisagem guignardiana, a nos mostrar possibilidades de experiências plenas, longe de impasses.

Fabio Miguez

GISELE CAMARGO

Brutos, 2016 Tinta acrílica e óleo sobre sobre tela 30 x 45 x 4 cm 14

Brutos, 2016 Tinta acrílica e óleo sobre sobre tela 30 x 40 x 4 cm

Como se uma rocha de Castagneto fosse içada de seu “habitat natural” ou um Morandi já não fosse vaso ou garrafa. Assim os “brutos” habitam esses espaços vazios, austeros, que reconhecemos mesmo não conseguindo nominá-los.

Fabio Miguez

FABIOLA RACY

Sem título, 2015 Tinta acrílica sobre tela 80 cm x 100 cm

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Sem título, 2015 Tinta acrílica sobre tela 80 cm x 100 cm

Ao primeiro contato com as pinturas da Fabiola, o que percebemos são relações de cores, áreas grandes e intensas travam um diálogo entre si em que cada uma quer ser mais afirmativa que a outra. Fabiola parte da representação do espaço na arquitetura, mas esse não é o seu assunto, não está preocupada com a perspectiva, em mostrar o que está na frente ou atrás. Não é desenho, quer mesmo falar de pintura, de cores, e nos seus gestos em construir essas áreas de cor há uma inquietação nervosa de descobrir novas possibilidades. A reflexão do seu fazer colorístico se dá na experiência incansável de arriscar sem medo novas jornadas, como um alpinista que ao acabar de correr riscos subindo uma montanha já está pronto para a próxima.

Germana Monte-Mór

LÍLIA MALHEIROS

Sem título, 2015 Tinta acrílica e óleo sobre papel 70 cm x 207 cm Foto Sérgio Guerini 18

As transparências e camadas nas pinturas de Lilia não escondem o seu fazer disciplinado, construtivo, obsessivo. Ela elucida o tempo como possibilidade de um envolvimento com a vida, não com projetos a priori, mas como percurso de um cotidiano que pode ser renovado pela experiência do que ainda é possível fazer. Pelas bordas ela traça o seu mundo, que pode ser turvo, velado, apagado, mas a presença das pequenas áreas de cores cítricas de tintas luminosas industriais que remetem ao pop parecem mesmo apostar numa alegria.

Germana Monte-Mór

SANDRA MAZZINI

Sem título, 2016 Tinta acrílica e óleo sobre tela 100 x 60 cm

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Sem título, 2016 Tinta acrílica e óleo sobre tela 80 x 80 cm Sem título, 2016 Tinta acrílica e óleo sobre tela 60 x 50 cm

Enxergando através A forma como a imagem vem para o plano da tela e se espalha pela superfície é apresentada por Sandra Mazzini, que compartilha com o observador os caminhos percorridos desde a ideia inicial até o resultado final. Desta maneira, a soma da imagem e do processo que a criou parece ser o assunto de principal interesse nessas pinturas. O recorte, a escala, a gradação delicada de cores, a estrutura são os elementos com os quais a artista elabora as possibilidades poéticas de uma representação comentada. Trata-se de uma realidade em via de transmutação, como se a artista propusesse uma visão poderosa, alterando o real para em seguida reapresentá-lo repleto de nuances particulares e vibrações improváveis.

Leda Catunda

ELVIS ALMEIDA

Sem título, 2016 Técnica mista sobre madeira 80 x 60 cm Foto Rafael Adorján 22

Sem título, 2016 Técnica mista sobre madeira 80 x 42,5 cm Foto Rafael Adorján

A pintura gráfica de Elvis Estaria o artista num ponto distante da nossa galáxia, pintando a vista de seu planeta classe “M”, banhado pela luz de três sóis de mesmo tamanho? Não, realmente não, Elvis Almeida está sim no Rio de Janeiro... Sua pintura bem plana valoriza a superfície, cor inventada e gestos rápidos articulam uma composição essencialmente gráfica. Artificialidade prevalece sobre a ideia de representação de qualquer realidade. Mundo próprio ritmado, organizado no momento, mistura a velocidade das ruas com a velocidade da vida. Planeta inventado, subjetivo, reatualizado a cada nova imagem.

Leda Catunda

TAÍS CABRAL

Sem título, 2007 Óleo sobre MDF 50 x 50 cm

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Sem título, 2007 Óleo sobre MDF 50 x 50 cm

As construções de Taís Cabral questionam nosso ponto de vista. Nunca sabemos ao certo onde estamos. Um resquício da luz da pintura metafísica se insinua pelas frestas, dotando a pintura de um caráter atemporal. O azul do céu ou do mar vira fachada, o vazio tem um caráter positivo: parecem fragmentos de uma cidade maior, vestígios de uma cidade invisível.

Marco Giannotti

VITOR IWASSO

Crenças vagas e desânimos inevitáveis, 2016 Óleo e tinta acrílica sobre tela 90 x 90 cm

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Um acontecimento não central, 2016 Óleo e tinta acrílica sobre tela 80 x 80 cm

As pinturas recentes de Vitor Iwasso me lembram os célebres cadavres exquis, desenhos ou montagens feitos pelos surrealistas. O papel é dobrado em várias tiras onde autores diferentes realizam intervenções sem que um saiba o que o outro está fazendo. O resultado é uma colagem fragmentada que, paradoxalmente, faz sentido pelo encontro fortuito de coisas tão díspares. Nesse mundo do cut and paste virtual, Vitor busca novas articulações espaçotemporais entre as imagens mediante a pintura.

Marco Giannotti

GABRIEL PITAN GARCIA

Série Em algum lugar tem alguém que repara em você - Marta, 2015 Série Em algum lugar tem alguém que repara em você - José, 2015 Série Em algum lugar tem alguém que repara em você - Mariana, 2015 Série Em algum lugar tem alguém que repara em você - Renato, 2015 Técnica mista sobre tela 100 x 80 cm

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Gabriel Pitan Garcia é um artista que se coloca como observador, num ambiente urbano, tendo como principal interesse e ponto de partida suas experimentações em relações sociais contraditórias, trazendo-as para o plano pictórico. Gabriel traduz um cotidiano comum, aberto a diversas associações a diferentes expectadores. Seus trabalhos, finalmente negros, trazem uma gama intensa de acontecimentos, significados e cores em sua construção feita em camadas.

Marina Saleme

MARINA HACHEM

Sem título, 2016 Técnica mista sobre tela 70 x 50 cm

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O falso mendigo, 2016 Técnica mista sobre tela 50 x 40 cm

Marina Hachem trabalha a partir de arquivos pessoais ou apropriando-se de documentos e registros de terceiros, construindo um espaço sensorial num lugar suspenso, em busca de uma identidade ancestral desconhecida geograficamente, dada sua origem distante. A artista arrisca reconstruir e falsificar um tempo e espaço que não viveu ou traduzir rupturas em suas próprias experiências. Trabalha no embate entre delicadeza e brutalidade do ponto de vista pictórico, formal e sobretudo poético, confrontando técnicas tradicionais, com materiais de construção e cimento evidenciando um discurso do peso e leveza, do fluxo e fluido.

Marina Saleme

LEOPOLDO PONCE

Sem título, 2013 Marcador, lápis, aquarela e colagem sobre papel 20,5 x 30 cm

O trabalho de Leopoldo Ponce pertence ao caos da vida contemporânea, surge dele e a ele retorna como um pensamento. Arranjos diferentes de pedaços de papel e de pinturas que se juntam e se separam num universo poético que há um bom tempo vem se ampliando. Os temas permitem sempre visões fragmentadas de constelações de planetas, mas também deixam entrever o próprio plano problemático da pintura contemporânea, aquele plano “flat bed” tão bem descrito por Steinberg no seu livro Outros critérios. Mas o grande mérito de Leopoldo não é tanto a contemporaneidade latente dos seus trabalhos, ele é um desses raros artistas que se interessam em antes de mais nada ativar todo o conteúdo poético possível nessa ida e vinda dos materiais e coisas que encontramos na vida comum.

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Paulo Monteiro

Supernova, 2014 Acrilica e intervenção sobre feltro de proteção 175 x 197 cm

THOMAZ ROSA

Way to blue, 2016 Óleo sobre tela 38 x 30 cm Foto Eduardo Ortega

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Colombiana, 2016 Óleo sobre tela 15 x 18 cm Foto Eduardo Ortega Sem título, 2016 Óleo sobre tela Ø 12 x 2 cm Foto Eduardo Ortega

Thomaz Rosa não tem uma escolha definida. Nem um modus operandi nem um universo escolhido. Tudo em seu trabalho é mudança. Entretanto, vemos na execução de cada uma de suas pinturas a precisão e o esmero que lembram as vanguardas russas do começo do século XX. Mas isso é só uma aparência. Essencialmente, a pintura de Thomaz está aberta a diversos voos. Tanto no sentido temático quanto no sentido da linguagem. Sua experiência assim começa com o sentido reflexivo que caracteriza tão bem a gênese dos melhores artistas.

Paulo Monteiro

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ALEXANDRE WAGNER

Sem título, 2016 Óleo sobre tela 30 x 40 cm 36

Sem título, 2016 Óleo sobre tela 30 x 40 cm

Acompanho, há algum tempo, o trabalho em pintura de Alexandre Wagner e Guilherme Ginane. De saída, posso constatar o empenho e a seriedade com que a enfrentam, sua batalha diária, assim como a maneira digna e corajosa que escolheram em não sofismar questões intrínsecas a essa linguagem. Em ambos, a pintura nunca é dada a priori, ou melhor: ideias preconcebidas só podem ganhar evidência, realidade, se passarem pela justa resposta do fazer. Desta maneira, seus trabalhos me comovem, primeiro, por essa exponenciação da experiência, depois, pelo tanto de verdade que herdaram dessa operação.

Paulo Pasta

GUILHERME GINANE

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Mesa preta, 2016 Óleo sobre papel 75 x 56 cm Foto Everton Ballardin

6 cigarros, 2016 Óleo sobre tela 100 x 120 cm Foto Everton Ballardin

MARIA ANDRADE

Sem título, 2016 Óleo sobre tela 18 x 24 cm

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Sem título, 2016 Óleo sobre tela 18 x 24 cm

As pinturas de Maria Andrade são feitas rapidamente, aparentemente sem nenhuma dificuldade. Parece que precisam ser assim. As paisagens baseadas em imagens fotográficas se configuram num breve fluxo de pinceladas, e essa primeira mão deve ser mantida o quanto possível no resultado final. Por isso a escala pequena dos trabalhos é importante. Mesmo quando há refações, elas acompanham esse fluxo único e mantêm o espírito “pintura de uma tacada só” que as norteia. Se a pintura começa a se embananar, melhor deixá-la e começar outra, pois os percalços no processo não têm lugar nessa pintura que não busca o conflito, ao contrário, e, mesmo quando assume contrastes mais dramáticos e cores mais ácidas, prima pela leveza e graça, deixando à mostra o puro prazer de sua fatura.

Rodrigo Andrade

RICARDO ALVES

Transformador, 2015 Óleo sobre tela 40 x 30 cm Paisagem Cinza, 2016 Óleo sobre tela 40 x 30 cm

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A pintura de Ricardo Alves se insere na recente tradição de pinturas baseadas em imagens fotográficas, mas no processo de feitura se distanciam dessa base inicial. Nesse processo, as dúvidas e reorientações vão tecendo uma superfície pictórica rica em sutis relações tonais e cromáticas, e construindo espaços amplos que tendem ao vazio, geralmente pontuados com estruturas geométricas como postes, fios e plataformas. O desejo de figuração, que por vezes adquire um caráter quase ilustrativo, e o desejo da pintura pura estão sempre num suave conflito, fértil em possibilidades plásticas que são exploradas com curiosidade e variação. Sua poética da solidão (sondas espaciais, descampados, pântanos) nunca torna-se sentimental, pois suas pinturas são guiadas por uma intenção estritamente estética.

Rodrigo Andrade

Torre de funá, o desconhecida, 2015, Óleo sobre tela 30 x 30 cm

SARA MÜLLER

Sem título, 2013 Técnica mista sobre papel 50 cm x 65 cm Foto Sérgio Guerini

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Sem título, 2013 Técnica mista sobre papel 30 cm x 41 cm Foto Sérgio Guerini

Sara Müller preenche quase todo espaço. Satura. E o faz com uma profusão de materiais, muitas vezes de aparente incompatibilidade entre si, como grafite e guache, que no final contribuem para a construção de uma matéria pictórica forte, diversificada e rica. A mão trabalha intensamente – uma operação que evapora com o resultado final, mas que o olho do espectador pode perceber e reconstruir.

Sérgio Sister

SUIÁ FERLAUTO

Sem título, 2015 Óleo sobre tela 150 x 120 cm 46

Sem título, 2015 Óleo sobre tela 150 x 120 cm

Drops, 2015 Óleo sobre tela 16 cm x 22 cm

Drops, 2015 Óleo sobre tela 16 cm x 22 cm

Suiá Ferlauto começa suas pinturas com cores muito intensas, que dominam todos os sentidos, como um amarelo quase solar. Mas, com o uso do branco, ela trabalha sobre esse sol cegante, como a colocar um filtro que faz a cor suave, porém palpitante e expansiva. Ao redor, o que parecia uma margem, um fundo, ela deixa um lugar vazio que ocasionalmente é parte da própria tela, mas que poderia ser também um muro.

Sérgio Sister

UM DESASSOSSEGO 20 pintores 2016 Galeria Estação | Diretores Vilma Eid Roberto Eid Philipp Curadoria Germana Monte-Mór Textos Vilma Eid Paulo Pasta Germana Monte-Mór

Produção e desenho gráfico Germana Monte-Mór Secretaria de produção Giselli Mendonça Gumiero Rodrigo Casagrande Revisão de texto Otacílio Nunes Montagem MIA - Montagem de instalações artísticas Iluminação e apoio de produção Marcos Vinícius dos Santos Kleber José Azevedo Assessoria de imprensa Pool de comunicação Impressão e acabamento Lis Gráfica Agradecimentos Dudi Maia Rosa, Fabio Miguez, Leda Catunda, Marco Giannotti, Marina Saleme, Paulo Monteiro, Paulo Pasta, Rodrigo Andrade, Sérgio Sister

rua Ferreira de Araujo 625 Pinheiros SP 05428001 fone 11 3813 7253 www.galeriaestacao.com.br 48

JOSÉ CARLOS BOI CEZAR FERREIRA • ROSA BARREIROS

Dudi Maia Rosa GISELE CAMARGO • ALVARO SEIXAS

Fabio Miguez FABIOLA RACY • LÍLIA MALHEIROS

Germana Monte-Mór SANDRA MAZZINI • ELVIS ALMEIDA

Leda Catunda TAÍS CABRAL • VITOR IWASSO

Marco Giannotti MARINA HACHEM • GABRIEL PITAN GARCIA

Marina Saleme LEOPOLDO PONCE • THOMAZ ROSA

Paulo Monteiro ALEXANDRE WAGNER • GUILHERME GINANE

Paulo Pasta MARIA ANDRADE • RICARDO ALVES

Rodrigo Andrade SUIÁ FERLAUTO • SARA MÜLLER

Sérgio Sister

UM DESASSOSSEGO GALERIA ESTAÇÃO

UM DESASSOSSEGO 2016

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