História do Maravilhoso e do Sobrenatural

December 6, 2016 | Author: Martín Tuschinski Mascarenhas | Category: N/A
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1 História do Maravilhoso e do Sobrenatural Revista Espírita, setembro de 1860 POR LOUIS FIGUIER. (Primeir...

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História do Maravilhoso e do Sobrenatural

História do Maravilhoso e do Sobrenatural Revista Espírita, setembro de 1860 POR LOUIS FIGUIER. (Primeiro artigo.) É um pouco da palavra maravilhoso como da palavra alma; há um sentido elástico que pode dar lugar a interpretações diversas; por isso, acreditamos útil colocar alguns princípios gerais no artigo precedente, antes de abordar o exame da história que nos dá p Sr. Figuier. Quando essa obra apareceu, os adversários do Espiritismo bateram as mãos dizendo que, sem dúvida, teríamos pela frente um forte adversário; em seu caridoso pensamento, já nos viam mortos sem retorno; tristes efeitos da cegueira passional e irrefletida; porque, se se dessem ao trabalho de observar o que querem demolir, veriam que o Espiritismo será um dia, e isso mais cedo do que crêem, a salvaguarda da sociedade, e talvez mesmo lhe deverão a sua salvação, não dizemos no outro mundo, com o qual pouco se inquietam, mas neste! Não é levianamente que dizemos estas palavras; não chegou ainda o tempo de desenvolvê-las; mas muitos já nos compreendem. Voltando ao Sr. Figuier, nós mesmos pensamos encontrar nele um adversário verdadeiramente sério, trazendo enfim argumentos peremptórios que valessem o trabalho de uma refutação séria. Sua obra compreende quatro volumes; os dois primeiros contêm de início uma exposição de princípios num prefácio e uma introdução, depois um relato de fatos perfeitamente conhecidos, que se lera, contudo, com interesse, por causadas pesquisas eruditas que ocorreram da parte do autor; é, nós o cremos, o relato mais completo que disso se publicou. Assim, o primeiro volume é quase inteiramente consagrado à história de Urbain Grandier e dos religiosos de Loudun; vêm em seguida os convulsionários de Saint-Médard, a história dos profetas protestantes, a varinha adivinhatória, o magnetismo animal. O quarto volume, que acaba de aparecer, trata especialmente das mesas girantes e dos Espíritos batedores. Retornaremos mais tarde sobre este último volume, nos limitando, por hoje, a uma apreciação sumária do conjunto. A parte crítica das histórias que os dois primeiros volumes encerram consiste em provar, por testemunhos autênticos, que a intriga, as paixões humanas, o charlatanismo, aí desempenharam um grande papel; que certos fatos levam uma marca evidente de malabarismos; mas é o que ninguém contesta; ninguém nunca garantiu a integridade de todos esses f atos; os Espíritas, menos que os outros, devem mesmo agradecer ao Sr. Figuier por ter juntado provas que evitarão numerosas compilações; eles têrn interesse em que a fraude seja desmascarada, e todos aqueles que as descobrirem nos fatos falsamente qualificados de fenômenos espíritas, lhes prestarão serviço; ora, para prestar semelhantes serviços, nada melhor que os inimigos; vê-se, pois, que os próprios inimigos são bons para alguma coisa; somente neles, o desejo da crítica os arrasta, algumas vezes, muito longe, e em seu ardor para descobrir o mal, freqüentemente, vêem-no onde ele não está, por falta de examinar a coisa com bastante atenção ou imparcialidade, o que é ainda mais raro. O verdadeiro crítico deve se defender de idéias preconcebidas, se despojar de todo preconceito, de outro modo ele julga sob seu ponto de vista que, talvez, nem sempre é justo. Tomemos http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1860/09c-historia-do-maravilhoso.html (1 of 7)7/4/2004 11:14:17

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um exemplo: suponhamos a história política dos acontecimentos contemporâneos escrita com a maior imparcialidade, quer dizer, com uma inteira verdade, e suponhamos essa história comentada por dois críticos de opiniões contrárias; por serem todos os fatos exatos, eles melindrarão forçosamente a opinião de um dos dois; daí dois julgamentos contraditórios: um que levará a obra às nuvens, o outro que a dirá boa para se lançar ao fogo; e todavia a obra não continha senão a verdade. Se assim é para fatos patentes como os da história, com mais forte razão quando se trata da apreciação de doutrinas filosóficas; ora, o Espiritismo é uma doutrina filosófica, e aqueles que não o vêm senão no fato das mesas girantes, ou que o julgam sobre contos absurdos, sobre o abuso que dele se pode fazer, que o confundem com os meios de adivinhação, provam que não o conhecem. O Sr. Figuier está nas condições requeridas para julgá-lo com imparcialidade? É o que se trata de examinar. O Sr. Figuier inicia assim em seu prefácio: "Em 1854, quando as mesas girantes e falantes, importadas da América, fizeram a sua aparição na França, elas aí produziram uma impressão que ninguém esqueceu. Muitos espíritos sábios e refletidos ficaram assustados com esse excesso imprevisto da paixão do maravilhoso. Não podiam compreender um tal descaminho em pleno décimo-nono século, com uma filosofia avançada e no meio desse magnífico movimento científico que dirige tudo hoje para o positivo e o útil." Seu julgamento está pronunciado: a crença nas mesas girantes é um descaminho. Como o Sr. Figuier é um homem positivo, deve-se pensar que, antes de publicar o seu livro, tudo viu, tudo estudou, tudo aprofundou, em uma palavra, que fala com conhecimento de causa. Se o fora de outro modo, cairia no erro dos Srs. Schiff e Jobert (deLamballe)com a sua teoria do músculo estalante. (Ver a Revista do mês de junho de 1859.) E, todavia, é do nosso conhecimento que, há um mês apenas, ele assistiu a uma sessão onde provou que é estranho aos princípios mais elementares do Espiritismo. Dir-se-á suficientemente esclarecido porque assistiu a uma sessão? Certamente não duvidamos de sua perspicácia, mas. Por grande que seja, não poderíamos admitir que ele possa conhecer e, sobretudo, compreender o Espiritismo em uma sessão, que não aprendeu a física em uma lição; se o Sr. Figuier pudesse fazê-lo, teríamos o fato por um dos mais maravilhosos. Quando ele tiver estudado o Espiritismo com tanto cuidado como se tem com o estudo de uma ciência, que tiver consagrado um tempo moral necessário, que tiver assistido a alguns milhares de experiências, que se tiver dado conta de todos os f atos sem exceção, que tiver comparado todas as teorias, então somente poderá fazer uma crítica judiciosa; até lá o seu julgamento é uma opinião pessoal, que não terá mais peso no pró que no contra. Tomemos a coisa de um outro ponto de vista. Dissemos que o Espiritismo repousa inteiramente sobre a existência, em nós, de um princípio imaterial, dito de outro modo, sobre a existência da alma. Aquele que não admite um Espírito em si, não pode admiti-lo fora de si; por conseqüência, não admitindo a causa, não pode admitir o efeito. Gostaríamos, pois, de saber se o Sr. Figuier poderia colocar, na cabeça de seu livro, a profissão de fé seguinte: 1a Eu creio em Deus, autor de todas as coisas, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, e infinito em suas perfeições; 2a Eu creio na providência de Deus; 3a Eu creio na existência da alma sobrevivente ao corpo, e em sua individualidade depois da morte. Nisso creio não como uma probabilidade, mas como uma coisa necessária e

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conseqüente dos atributos da Divindade; 4a Admitindo a alma e a sua sobrevivência, eu creio que não seria nem segundo a justiça, nem segundo a bondade de Deus, que o bem e o mal fossem tratados no mesmo pé depois da morte, então que, durante a vida, tão raramente recebem a recompensa ou o castigo que merecem; 5a Se a alma do mau e do bom não são tratadas do mesmo modo, há, pois, as que são felizes ou infelizes, quer dizer, que são recompensadas ou punidas segundo as suas obras. Se o Sr. Figuier fizer uma tal profissão de fé, nós lhe diremos: Essa profissão é a de todos os Espíritas, porque sem isso o Espiritismo não teria nenhuma razão de ser; somente que, o que credes teoricamente o Espiritismo o demonstra pelos fatos; porque todos os fatos espíritas são a conseqüência desses princípios. Os Espíritos que povoam os espaços, não sendo outra coisa que as almas daqueles que viveram sobre a Terra, ou em outros mundos, do momento que se admite a alma, a sua sobrevivência e a sua individualidade, admite-se, por isso mesmo, os Espíritos. Estando a base reconhecida, toda a questão é saber se esses Espíritos, ou essas almas, podem se comunicar com os vivos; se têm uma ação sobre a matéria; se influem sobre o mundo físico e o mundo moral; ou bem se estão devotadas a uma inutilidade perpétua, ou a não se ocuparem senão delas mesmas, o que é pouco provável, se se admite a providência de Deus, e se se considera a admirável harmonia que reina no Universo, onde o menor ser desempenha o seu papel. Se a resposta do Sr. Figuier fosse negativa, ou somente polidamente dúbia, para nos servir da expressão de certas pessoas, a fim de não chocar muito bruscamente preconceitos respeitáveis, nós lhe diríamos: não sois juiz mais competente em relação ao Espiritismo do que um muçulmano com respeito à religião católica; o vosso julgamento não seria imparcial, e seria em vão que vos defenderíeis de trazer idéias preconcebidas, porque estas idéias estão em vossa opinião, mesmo tocando o princípio fundamental que rejeitais a priori, e antes de conhecer a coisa. Se um corpo sábio nomeasse um relator para examinar a questão do Espiritismo, e que esse relator não fosse francamente Espiritualista, valeria tanto quanto se um concilio escolhesse Voltaire para tratar de uma questão de dogma. Espanta-se, diga-se de passagem, que os corpos sábios não hajam dado o seu parecer; mas esquece-se de que a sua missão é o estudo das leis da matéria e não as dos atributos da alma, e ainda menos de decidir se a alma existe. Sobre tais assuntos eles podem ter opiniões individuais, como podem tê-las sobre a religião; mas, como corporação, nunca terão que se pronunciar. Não sabemos o que o Sr. Figuier responderia às perguntas formuladas na profissão de fé acima, mas seu livro pode fazê-lo pressentir. Com efeito, o segundo parágrafo de seu prefácio está assim concebido: "Um conhecimento exato da história do passado teria prevenido, ou ao menos muito diminuído, esse espanto. Seria, com efeito, um grande erro imaginar que as idéias que geraram em nossos dias a crença nas mesas falantes e nos Espíritos batedores, são de origem moderna. Esse amor do maravilhoso não é particular à nossa época; ele é de todos os tempos e de todos os países, porque se prende à própria natureza do espírito humano. Por uma instintiva e injusta desconfiança de suas próprias forças, o homem é levado a colocar, acima dele, invisíveis forças se exercendo numa esfera inacessível. Essa disposição nativa existiu em todos os períodos da história da Humanidade, e revestindo, segundo os tempos,

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os lugares e os costumes, aspectos diferentes, ela deu nascimento a manifestações variáveis em sua forma, mas tendo no fundo o mesmo princípio." Uma vez que disse que é por uma instintiva e injusta desconfiança de suas próprias forças que o homem é levado a colocar, acima dele, invisíveis forças se exercendo numa esfera inacessível, é reconhecer que o homem é tudo, que ele pode tudo, e que acima dele nada há; se não nos enganamos, isso não é somente do materialismo, mas do ateísmo. Estas idéias, de resto, ressaltam de uma multidão de outras passagens de seu prefácio e de sua introdução, sobre os quais chamamos toda a atenção de nossos leitores, e estamos persuadidos de que elas os levarão ao mesmo julgamento nosso. Dir-se-á que essas palavras não se aplicam à Divindade mas aos Espíritos? Nós lhes responderemos que, então, eles não conhecem a primeira palavra do Espiritismo, uma vez que negar os Espíritos é negar a alma: sendo os Espíritos e as almas uma só e mesma coisa; que os Espíritos não exercem a sua força numa esfera inacessível, uma vez que estão ao nosso lado, nos tocando, agindo sobre a matéria, a exemplo de todos os fluidos imponderáveis e invisíveis que, contudo, são os mais poderosos motores e os agentes mais ativos da Natureza. Só Deus exerce o seu poder numa esfera inacessível aos homens; negar esse poder, é, pois, negar a Deus. Dir-se-á, enfim, que esses efeitos, que atribuímos aos Espíritos, sem dúvida, são devidos a alguns desses fluidos? Isso seria possível; mas, então, nós lhes perguntaremos como fluidos ininteligentes podem dar efeitos inteligentes. O Sr. Figuier constata um fato capital em dizendo que esse amor do maravilhoso é de todos os tempos e de todos os países, porque ele se prende à própria natureza do espírito humano. O que ele chama amor do maravilhoso é muito simplesmente a crença instintiva, nativa, como ele disse, na existência da alma e em sua sobrevivência ao corpo, crença que revestiu formas diversas segundo os tempos e os lugares, mas tendo no fundo um princípio idêntico. Esse sentimento inato, universal no homem, Deus ter-lhe-ia inspirado para se divertir com ele? Para lhe dar aspirações impossíveis de se realizarem? Crer que isso possa ser assim, é negar a bondade de Deus, é mais, é negar o próprio Deus. Se quer outras provas daquilo que avançamos? Vejamos ainda algumas passagens de seu prefácio: "Na Idade Média, quando uma religião nova transformou a Europa, o maravilhoso tomou domicílio nessa mesma religião. Crê-se nas possessões diabólicas, nos feiticeiros e nos mágicos. Durante uma série de séculos, essa crença foi sancionada por uma guerra sem trégua e sem misericórdia, feita aos infelizes que eram acusados de um secreto comércio com os demônios ou com os mágicos seus cúmplices. "Pelo fim do décimo-sétimo século, na aurora de uma filosofia tolerante e esclarecida, o diabo caiu em desuso, e a acusação de magia começa a ser um argumento usado, mas o maravilhoso não perde os seus direitos por isso. Os milagres floresceram a porfia nas igrejas das diversas comunhões cristãs; crê-se, ao mesmo tempo, na varinha adivinhatória, ou se reporta aos movimentos de um bastão em forquilha para procurar os objetos do mundo físico e se esclarecer sobre as coisas do mundo moral. Continua-se, nas diversas ciências, a admitir a intervenção de influências sobrenaturais, precedentemente introduzidas por Paracelso. "No décimo-oitavo século, apesar da voga da filosofia cartesiana, ao passo que, sobre as matérias filosóficas, todos os olhos se abriram as luzes do bom senso e da razão, no século de Voltaire e da enciclopédia, só o maravilhoso resiste à queda de tantas crenças até aqui veneradas. Os milagres pululam ainda."

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Se a filosofia de Voltaire, que abriu os olhos à luz do bom senso e da razão, e solapou tantas superstições, não pôde desarraigar a idéia nativa de um poder oculto, não seria porque essa idéia é inatacável? A filosofia do décimo-oitavo século flagelou os abusos, mas se deteve contra a base. Se esta idéia triunfou dos golpes que lhe deu o apóstolo da incredulidade, o Sr. Figuier espera ser mais feliz? Nós nos permitimos disso duvidar. O Sr. Figuier faz uma singular confusão de crenças religiosas, milagres e da varinha adivinhatória; tudo isto, para ele, sai da mesma fonte: a superstição, a crença no maravilhoso. Não empreenderemos defender aqui esse pequeno bastão em forquilha que teria a singular propriedade de servir para a procura do mundo físico, pela razão de que não aprofundamos a questão, e que temos por princípio não louvar ou criticar senão o que conhecemos; mas, se quiséssemos raciocinar por analogia, perguntaríamos ao Sr. Figuier se a pequena agulha de aço com a qual o navegador encontra a sua rota, não tem uma virtude tão maravilhosa quanto o pequeno bastão forquilhado? Não, direis, porque conhecemos a causa que a faz agir, e essa causa é toda física. Antes que se conhecesse a teoria da bússola, que teríeis pensado, se vivêsseis nessa época, então que os marinheiros não tinham por guia senão as estrelas, que, freqüentemente, lhes faltavam, que teríeis pensado, dizemos, de um homem que viesse dizer: Tenho ali, numa pequena caixa, não maior que uma bomboneira, uma pequenina agulha com a qual os maiores navios podem se dirigir com certeza; que indica a rota para todos os tempos com a precisão de um relógio? Ainda uma vez, não defendemos a varinha adivinhatória, e ainda menos o charlatanismo que dela se apoderou ;mas perguntamos somente o que haveria de mais sobrenatural em que um pequeno pedaço de madeira, em circunstâncias dadas, fosse agitado por um eflúvio terrestre invisível, como a agulha imantada o é pela corrente magnética, que não se vê mais? É que esta agulha não serve também para a procura das coisas do mundo físico? É que ela não está influenciada pela presença de uma mina de ferro subterrânea? O maravilhoso é idéia fixa do Sr. Figuier; é seu pesadelo; ele o vê por toda parte onde haja alguma coisa que ele não compreenda. Mas pode somente, ele, sábio, dizer como germina e se reproduz o menor grão? Qual é a força que faz a flor girar para a luz? o que, sob a terra, atrai as raízes para um terreno propício, e isso através dos obstáculos mais duros? Estranha aberração do espírito humano, que crê tudo saber e não sabe nada; que esmigalha sob os pés maravilhas sem nome, e nega um poder sobre-humano! Estando a religião fundada sobre a existência de Deus, essa força sobre-humana que se exerce numa esfera inacessível; sobre a alma que sobrevive ao corpo, em conservando a sua individualidade, e por conseqüência a sua ação, tem por princípio o que o Sr. Figuier chama de maravilhoso. Se tivesse se limitado a dizer que entre os fatos chamados maravilhosos há ridículos, absurdos, dos quais a razão faz justiça, nós o aplaudiríamos por isso, com todas as nossas forças, mas não poderíamos ser do seu parecer quando ele confunde, na mesma reprovação o princípio e o abuso do princípio; quando nega a existência de todo poder acima da Humanidade. Esta conclusão, aliás, está formulada de maneira inequívoca na passagem seguinte: "Destas discussões, cremos que resultará para o leitor a perfeita convicção da não existência de agentes sobrenaturais, e a certeza de que todos os prodígios que excitaram, em diversos tempos, a surpresa ou a admiração dos homens, se explicam com o só conhecimento de nossa organização fisiológica. A negação do maravilhoso, tal é a conclusão a tirar deste livro, que poderia se chamar o maravilhoso explicado; e se chegarmos ao objetivo que nos propusemos alcançar, teremos a convicção de ter prestado um verdadeiro serviço para o bem das pessoas."

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Fazer conhecer os abusos, desmascarar a fraude e a hipocrisia por onde se encontrem, sem contradita, é prestar um grande serviço; mas cremos que é prestar um muito mau serviço à sociedade, tanto quanto aos indivíduos, em atacar o princípio porque se pôde dele abusar; é querer cortar uma boa árvore, porque deu um fruto vidrado. O Espiritismo bem compreendido, dando a conhecera causa de certos fenômenos, mostra o que é possível e o que não o é, e, por isso mesmo, tende a destruir as idéias verdadeiramente supersticiosas; mas, ao mesmo tempo, mostrando o princípio, dá um objetivo ao bem; fortifica nas crenças fundamentais que a incredulidade procura atacar vivamente sob o pretexto de abuso; ele combate a praga do materialismo, que é a negação do dever, da moral e de toda esperança, e é nisso que dizemos que será um dia a salvaguarda da sociedade. Estamos, de resto, longe de nos lamentar da obra do Sr. Figuier; sobre os adeptos não pode ter nenhuma influência, porque reconhecerão togo os pontos vulneráveis; sobre os outros, terá o efeito de todas as críticas: o de provocar a curiosidade. Depois da aparição, ou melhor, da reaparição do Espiritismo, muito se escreveu contra; não lhe pouparam nem os sarcasmos nem as injúrias; não há senão uma coisa da qual não teve a honra, é a fogueira, graças aos costumes do tempo; isso o impediu de progredir? De nenhum modo, porque ele conta hoje adeptos aos milhões em todas as partes do mundo, e todos os dias eles aumentam. Para isso a crítica, sem o querer, tem muito contribuído, porque o seu efeito, como dissemos, é provocar o exame; quer-se ver o pró e o contra, e se espanta em encontrar uma doutrina racional, lógica, consoladora, acalmando as angústias da dúvida, resolvendo o que nenhuma filosofia pôde resolver, ali onde se esperava não encontrar senão uma crença ridícula. Quanto mais o nome do contraditor é conhecido, mais a sua critica repercute, e mais ela pode fazer de bem em chamando a atenção dos indiferentes. Sob este aspecto, a obra do Sr. Figuier está nas melhores condições; por outro lado, ele escreveu de maneira séria, e não se arrasta na lama de injúrias grosseiras e de personalismos, únicos argumentos dos críticos de baixa classe. Uma vez que pretende tratar a coisa do ponto de vista científico, e a sua posição lho permite, ver-se-á, pois, aí a última palavra da ciência contra esta doutrina, e então o público saberá a que se prender. Se a sábia obra do Sr. Figuier não tiver o poder de lhe dar o golpe de misericórdia, duvidamos que outros sejam mais felizes; para combatê-la com eficácia, não há senão um meio, e com prazer lho indicamos. Não se destrói uma árvore cortando-lhe os ramos, mas cortando-lhe a raiz. É necessário, pois, atacar o Espiritismo pela raiz e não pelos ramos que renascem à medida que são cortados; ora, as raízes do Espiritismo, deste descaminho do décimo-nono século, para nos servir de sua expressão, são a alma e seus atributos; que ele prove, pois, que a alma não existe, e nem pode existir, porque sem almas não haverá mais Espíritos. Quando ele tiver provado isto, o Espiritismo não terá mais razão de ser e nos confessaremos vencidos. Se o seu ceticismo não vai até aí, que ele prove, não por u ma simples negação, mas por uma demonstração matemática, física, química, mecânica, fisiológica ou qualquer outra: 1a Que o ser que pensa durante a sua vida não deve mais pensar depois de sua morte; 2a Que se ele pensa, não deve mais querer se comunicar com aqueles que amou; 3a Que se ele pode estar por toda a parte, não pode estar ao nosso lado; 4a Que se está ao nosso lado, não pode se comunicar conosco; 5a Que pelo seu envoltório fluídico ele não pode agir sobre a matéria inerte; 6a Que se ele pode agir sobre a matéria inerte, ele não pode agir sobre um ser animado; http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1860/09c-historia-do-maravilhoso.html (6 of 7)7/4/2004 11:14:17

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7a Que se ele pode agir sobre um ser animado, não pode dirigir a sua mão para fazê-lo escrever; 8a Que podendo fazê-lo escrever, não pode responder às suas perguntas e transmitir-lhe o seu pensamento. Quando os adversários do Espiritismo nos tiverem demonstrado que isso não se pode, por razões tão patentes como aquelas pelas quais Galileu demonstrou que não é o Sol que gira ao redor da Terra, então poderemos dizer que as suas dúvidas são fundadas; infelizmente, até este dia, toda a sua argumentação se resume nestas palavras: Eu não creio, portanto, isto é impossível. Eles nos dirão, sem dúvida, que cabe anos provar a realidade das manifestações; nós lhas provamos pelos fatos e peto raciocínio; se não admitem nem a uns nem ao outro, se negam o que vêem, cabe a eles provar que o nosso raciocínio é falso e que os fatos são impossíveis. Num outro artigo examinaremos a teoria do Sr. Figuier; desejamos por ele que ela seja de melhor quilate que a do músculo es-talante de Jobert (de Lamballe).

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