AS TRANSFORMAÇÕES DO USO DO SOLO DA AVENIDA JOÃO MACHADO EM JOÃO PESSOA PB

May 13, 2016 | Author: Milton Tomé Câmara | Category: N/A
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1 AS TRANSFORMAÇÕES DO USO DO SOLO DA AVENIDA JOÃO MACHADO EM JOÃO PESSOA PB Maria Simone Mo...

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AS TRANSFORMAÇÕES DO USO DO SOLO DA AVENIDA JOÃO MACHADO EM JOÃO PESSOA – PB Maria Simone Morais Soares (1) PPGAU, Centro de Tecnologia, UFPB (1) [email protected]

Doralice Satyro Maia (2) PPGAU, Centro de Tecnologia, UFPB (2) [email protected]

Maria Berthilde de Barros Lima e Moura Filha (3) PPGAU, Centro de Tecnologia, UFPB (3) [email protected]

RESUMO O objetivo deste trabalho é assinalar os diversos usos da Avenida João Machado, localizada na área central de João Pessoa – PB, nas primeiras décadas de sua abertura (1910 – 1930) e nos dias atuais. A referida via foi aberta semelhante a um “boulevard” em 1910 e representou a primeira tentativa de modernização do espaço urbano da então Cidade da Parahyba, como também, um eixo de expansão desta cidade na direção sul. Nas primeiras décadas se sua abertura foi o lugar privilegiado para a construção dos suntuosos casarões dos produtores rurais que se instalavam definitivamente na cidade, bem como para a implantação de algumas instituições. Estes usos sofreram transformações ao longo do tempo, devido ao abandono da área central em detrimento de outros espaços para moradia, fato que direcionou um quadro atual de usos voltados principalmente para o comércio e serviços. Para a realização do trabalho, foram adotados como procedimentos metodológicos a revisão bibliográfica sobre a cidade, modernização e transformações urbanas, a investigação documental em fontes primárias de periódicos do início do século XX, no intuito de obter registros do passado da rua, e o trabalho de campo para identificar o quadro atual de uso do solo. Palavras-chave: Rua João Machado. Modernização. Uso do solo Artigo.

ABSTRACT The objective of this scientific paper is to describe the various uses of João Machado Avenue, located in the central area of João Pessoa - PB, in the first decades of its opening (1910 - 1930) and in the contemporary days. That Avenue was open like a "boulevard", in 1910, and represented one of the attempts to modernize the urban space of the City of Parahyba, but also an axis for expansion toward the

south of the city. In the first decades of its opening, was a privileged place for the construction of sumptuous mansions owned by farmers who settled permanently in the city, and for the establishment of some institutions. These uses have been transformed over time, due to the abandonment of the central area in the detriment of other areas for housing, causing an occupation mostly directed to the trade and services. The methodological procedures used in the research consisted in a bibliographic review about the city, modernization and urban transformations, besides a investigation, in primary sources of journals from the early twentieth century, in order to obtain past records of the avenue, and a fieldwork to identify the current state of land use. Keywords: João Machado Avenue. Modernization. Land use.

1 INTRODUÇÃO A Rua pode ser entendida como o lugar em que a cidade se manifesta e onde se materializam, ao longo do processo histórico, as transformações na morfologia, na paisagem urbana e no cotidiano (MAIA, 2000, p.32). Neste sentido, tanto a implantação da cidade, quanto seu crescimento tem a rua enquanto elemento central, pois ela “[...] tem origem e cresce através da produção de uma malha urbana viária onde a combinação dinâmica dos elementos conjugados - rua/lote/atividade - que organiza o sistema estrutural e espacial que a urbanização produz" (MEYER, 1993, p.14). Tais observações justificam a importância do estudo da rua para a compreensão do processo de urbanização e fatores a ele relacionados, como será feito no presente artigo ao voltar o olhar para Avenida João Machado localizada no perímetro histórico da Cidade de João Pessoa – PB (Ver Figura 1). Busca-se abordar os diversos usos da referida avenida, principalmente nas primeiras décadas de sua abertura (1910 – 1930) e nos dias atuais, incidindo sobre suas mudanças físicas, sociais e culturais. O trabalho é fruto de materiais e dados coletados em investigações feitas por ocasião da pesquisa “A Rua na Cidade Histórica: Cotidiano e Espacialidade”1, que busca analisar a Cidade Histórica de João Pessoa – PB através da investigação documental em fontes primárias dos arquivos históricos, priorizando os registros escritos (jornais, revistas, leis, atas, códigos de posturas), iconográficos e cartográficos da cidade no século XIX e início do século XX; e o trabalho de campo, que busca verificar na malha atual os registros pretéritos. Trata-se, portanto, de uma aproximação com a realidade do passado, realizada a partir da geografia urbana histórica, entendida por Carl Sauer como parte da geografia cultural que trata de “La reconstrucción de áreas culturales del pasado” (SAUER, 1940, p.39). A “área cultural” ora analisada é a rua, espaço que sofre grandes mudanças no tempo histórico e que refletem na sua trama física os reflexos das mudanças sociais e culturais.

Figura 1 – Localização de João Pessoa – PB e de seu Centro Histórico, com destaque para as áreas e preservação e para a Avenida João Machado (em vermelho). Fonte: Castro (2006) e Carvalho (2012).

Tais reflexos podem ser compreendidos a partir da análise das transformações do uso do solo da rua, pois eles são resultados das alterações sociais, econômicas e culturais na cidade, que implicam na valorização e desvalorização de áreas da cidade. Para tanto, o artigo está dividido em duas partes, além da introdução e das considerações finais: a primeira aborda a Avenida João Machado no contexto de modernização da Cidade de João Pessoa, então Cidade da Parahyba; e, a segunda assinala os usos da rua objeto de estudo a partir de sua abertura, em 1910 e nas primeiras décadas, momento em que se constituiu enquanto uma das principais vias residenciais de moradia da elite urbana, e nos dias atuais, onde se verifica um processo de degradação em sua estrutura física ocorrido pelo contexto de “decadência” causado pelo abandono da área central por essa mesma em detrimento de outras áreas privilegiadas para moradia.

2 A AVENIDA JOÃO MACHADO NO CONTEXTO DE MODERNIZAÇÃO DA CIDADE DA PARAHYBA Os trabalhos que tratam da Cidade da Parahyba em fins do século XIX e início do século XX, a exemplo de Maia (2000), Chagas (2004), Vidal (2004) e Guedes (2006) afirmam em consenso que esta não se diferenciava muito do que fora no Período Colonial e que mesmo as transformações ocorridas durante o Período Imperial, marcado pela chegada da modernidade, não foram suficientes para mudar o cenário de suas ruas tortuosas, becos, travessas e ladeiras que compunham um espaço carente de diversos equipamentos e serviços urbanos, tais como calçamento, abastecimento d’água, iluminação, transporte, entre outros. Assim, pode-se afirmar que é somente a partir do início do século XX que o ímpeto modernizador adentra o espaço urbano provocando alterações significativas na estrutura física da cidade. No início do século XX, a Cidade da Parahyba estava concentrada basicamente no seu núcleo de origem que, conforme a topografia onde foi implantada denominou-se de Cidade Alta e a Cidade Baixa, e dois eixos de expansão para noroeste, seguindo a Rua Tambia, e a sul e sudeste, em direção à Rua das Trincheiras (Ver Figura 2). A historiografia paraibana aponta que tratava-se de um pequeno núcleo urbano onde o que chamava atenção era a peculiaridade de algumas edificações, como as igrejas e alguns edifícios administrativos. Suas ruas eram tortuosas, sujas e com exceção de algumas, como a Rua Duque de Caxias, General Ozório e Maciel Pinheiro, que eram as principais, não possuíam calçamento. O abastecimento d’água era feito nas bicas, principalmente a de Bica de Tambiá, em chafarizes públicos, ou pelos aguadeiros que vendiam água nas portas. A iluminação pública era precária e feita à base da queima do gás líquido querosene, concentrando-se somente nas proximidades das igrejas e edifícios públicos. O transporte era feito por bondes puxados à tração animal. Além disso, as condições de habitação das classes pobres eram as piores possíveis, caracterizando-se por casas cobertas de palhas, localizadas nas áreas periféricas da cidade. Quanto ao aspecto da higiene urbana pode-se afirmar que era de grande precariedade. Havia a necessidade urgente de promover o saneamento da cidade, fato que constantemente apareciam nas reclamações dos Jornais, como é o caso do trecho retirado da Revista A Philipéia de 1909: Não temos duvida que entre os grandes problemas administrativos, que ora preocupam (ao governo do Estado) merece-lhe especial atenção o estado higiênico do nosso meio, infelizmente tão descurado por seus antecessores [...]. Reflicta bem o nosso publico sobre os perigos que offerecem esses focos

perniciosos que muitas vezes demoram a poucos passos da sala de refeições de certos domicilios, e diga-nos si o saneamento da nossa capital pode soffrer mais adiamentos, já com uma população de 25000 almas, segundo dados officiaes.(Revista A Philipéia, Janeiro de1909)

Os aspectos descritos vão sofrer as primeiras transformações no início do século XX com as mudanças na economia, quando houve a passagem do engenho para a usina de açúcar. Segundo Maia (2000) “é a partir desse momento em que sobreviverão mudanças no meio rural, na passagem do engenho para a usina, que as residências urbanas dos senhores deixa de ser temporária, passando a permanente.” (p.98), ou seja, os proprietários rurais, detentores do poder econômico, que antes só vinham na cidade nas épocas de chuvas e de festas passam agora a terem residência fixa nela. E, a imagem que a Cidade da Parahyba apresentava não era nem de perto o almejado por estes. Foi justamente o desejo dessa classe de se sentirem “modernos”, vinculados aos ideais republicanos de progresso que se impulsionou a modernização da Cidade da Parahyba. Sobre tal colocação, Waldeci Chagas tece o seguinte comentário: A transferência dos proprietários rurais para a capital, sua incorporação às elites e o desejo de quererem se afastar do mundo rural, visto como antigo e atrasado, passaram a justificar a implementação dos serviços de infraestrutura urbana, ou seja, a modernização da cidade. Esse processo foi resultado da renda proveniente do algodão que possibilitou aos produtores e comerciantes desse produto adquirirem uma casa na Capital e desfrutarem da modernização. Acrescente-se a isso o fortalecimento das finanças do estado patrocinado pelo algodão, uma vez que, de 1900 a 1929, este foi o principal produto nas exportações da Parahyba, superando a cana e o gado. (CHAGAS, 2004, pág. 39-40).

Através do trecho acima descrito pode-se afirmar que além da elite rural dos usineiros de açúcar na constituição das transformações urbanas, havia aquela elite ligada a produção do algodão, produto que, como estudou Guedes (2006), foi o “ouro branco” da modernização do espaço da Cidade da Parahyba. Portanto, os principais agentes que atuaram neste processo eram as classes dominantes: [...]com olhar adoçado pelas imagens captadas em revistas de época e nas viagens à capital federal, que aplicar-se-ão mecanismos para reformulação do espaço urbano em que se contrapõem, através de um jogo de palavras e imagens, o passado colonial, identificado com o atraso, a sujeira, a fealdade e a desordem urbana, e o futuro cobiçado, progressista, e por isso, moderno, limpo, belo e organizado. (TRAJANO FILHO, 2006)

Assim, Trajano Filho (2006), em consenso com os demais autores que tratam da modernização da Cidade da Parahyba, nas primeiras décadas do século XX, teve como inspiração de “cidade ideal” era o Rio de Janeiro, na reforma promovida por Pereira Passos (1903) que foi a primeira cidade do Brasil a promover o que Maria Cristina Leme (1999) intitulou de Planos de Melhoramentos, ou seja, as reformas ocorridas entre 1895 e 1930 nas áreas centrais das cidades brasileiras a partir da

implantação de princípios sanitaristas e em respostas a três questões: as epidemias que assolavam a população, fazendo o saneamento; a circulação, com vista a adequação da estrutura viária colonial aos novos meios de transportes; e o embelezamento que contribuía para transformar a imagem das cidades valorizadas como símbolos da modernidade, no século XIX. As primeiras tentativas para elaboração de planos de melhoramentos na Cidade da Parahyba podem ser verificadas no Governo de João Machado (1908 – 1912). No curto período de tempo de sua administração foi iniciado o fornecimento de energia elétrica e realizada a primeira obra de abastecimento d’água da cidade. Esta última foi de responsabilidade do diretor de obras públicas Miguel Raposo que em seu plano, além do abastecimento de água, previa a expansão da cidade na direção sul, fato que deu lugar à abertura da Avenida João Machado, traçada sobre a Travessa Bom Jesus, que existia desde a segunda metade do século XIX, e cortava o antigo Sítio do Boi – Choco,

nome

derivado

do

nome

do

primitivo

dono

chamado

de

Boichô

(RODRIGUES,1962, p.33). Sobre este acontecimento, Trajano Filho (2006) tece o seguinte comentário: Onde antes predominavam construções precárias em ruas aterradas e tomadas pelo mato, abriu-se um “boulevard”, extenso e largo, que facilitava o acesso a essa área da cidade que iniciava um processo de ocupação pelas classes mais abastadas que fugiam dos sobrados do centro. A regularidade da nova via afirmava-se como um gesto simbólico de negação do passado tortuoso das ruelas coloniais e de suas pragas. A modernidade ensejada parecia se avistar sem empecilhos na perspectiva retilínea da Avenida João Machado. (TRAJANO FILHO, 2006).

A partir da observação de Trajano Filho (2006) pode-se inferir que a abertura da Avenida João Machado representou uma tentativa de construir um “boulevard”, semelhante ao que Pereira Passos fez no Rio de Janeiro, com a abertura da Avenida Central, atual Rio Branco. Segundo o relatório apresentado por Miguel Raposo à Assembléia Legislativa do Estado, essa via possuia 22m de largura e 1.350m de extensão, em linha reta, semelhante a um “boulevard”. (ALMANACH, 1911). O mesmo relatório diz que essa a apresentava a função de ligar o manancial do rio Jaguaribe, na mata do Buraquinho até o reservatório elevado na Cidade Alta e comunicar quatro estradas principais da cidade, a Estrada do Macaco, a Estrada de Jaguaribe, a Rua da Palmeira e a Rua das Trincheiras (Ver figura 2).

Figura 2. Planta da Cidade da Parahyba em 1910. Destaca-se a Cidade Baixa, a Cidade Alta e as áreas de expansão, bem como a Avenida João Machado, a Estrada do Macaco, a Estrada de Jaguaribe, a Rua da Palmeira e a Rua das Trincheiras. Fonte: Elaborada sobre base cartográfica retirada de Nogueira (2005, p. 62).

3 AS TRANSFORMAÇÕES DO USO DO SOLO DA AVENIDA JOÃO MACHADO EM JOÃO PESSOA - PB O processo de ocupação da Avenida João Machado começou desde sua abertura na direção oeste-leste por uma população que pertencia à classe mais abastada,

constituída pelos produtores rurais que, como já foi mencionado, se instalaram definitivamente na cidade. Além destes havia também a presença de alguns profissionais liberais e comerciantes que deixavam seus sobrados na área da cidade onde o comércio era mais dinâmico pelo sossego de se viver em um “boulevard” espaçoso. Os suntuosos casarões ainda existentes são representantes desse processo de ocupação e uso do solo. O parcelamento do solo inicial da Avenida João Machado deu-se, inicialmente, através de lotes grandes, diferentes do lote colonial, que era estreito e profundo. As residências construídas caracterizaram uma nova forma de ocupação das cidades brasileiras no início do século XX: a principio implantadas com recuos laterais e sem recuo frontal e, mais tarde, completamente recuada dos limites do lote, resultando moradias arejadas, com jardins, condizentes com os preceito da higiene e as idéias de modernidade da época. Algumas imagens do início do século XX mostram essa configuração das casas da Avenida João Machado (Ver Figura 3).

Figura 3 – Residência na Avenida João Machado nas primeiras décadas de sua abertura (1910-1930). Fonte: (a) revista Era Nova (1922), (b) revista Era Nova (1926) e (c) Stuckert Filho (2004, p.36).

Além das residências, o início da ocupação da Avenida João machado foi marcado pela instalação de algumas instituições como é o caso do Grupo Escolar Isabel Maria das Neves, do Instituto de Proteção à Infância (1912), hoje a Policlínica São Vicente de Paula, e do Orfanato D. Ulrico (Ver Figura 4). Estes edifícios, com exceção do grupo escolar Isabel Maria das Neves, tratavam de obras de assistencialismo do Estado que concebiam através deles a idéia de progresso, uma visão de glória para a cidade que para se tornar “moderna” deveria conter tais obras, como assim sugere o trecho do artigo retirado da Revista Era Nova de 1920: “Fazendo-se alardo das instituições e fontes de vitalidade, quem não vê que a Parahyba entra com seu quinhão elevadíssimo para o progresso do mundo?” (Revista Era Nova, 1922, p. 13).

Figura 4 – (a) Grupo Escolar Isabel Maria das Neves, (b) Instituto de Proteção à Infância, (c) Polyclínica Infantil Fonte: Era Nova (1921).

A construção das referidas instituições era feita com o que havia de mais moderno, como revela a descrição do Orphanato D. Ulrico como sendo “instituto modelo, com seu prédio confortável e hygiênico, de tudo provido de água e luz, e modesto mobiliário, e com seu rico e bello pomar [...]” (Revista Era Nova, 1922, p.13). Pode-se afirmar, então, que no início do século XX, nas suas primeiras décadas de abertura, a Avenida João Machado apresentava um misto de usos voltados à residência de alto padrão e edifícios institucionais. A partir da análise dos documentos e do trabalho de campo foi possível traçar um “croqui” do uso do solo da avenida entre 1910, data de sua abertura, até 1930. A pesquisa documental revelou, através das imagens e mapas, a rua neste período, evidenciado os trechos já ocupados. Já a pesquisa de campo pode demostrar a partir da observação da paisagem quais os imóveis deste período que ainda permanecem, alguns ainda conservados, outros em estado de ruína (Ver Figura 9). Com o decorrer dos ano, principalmente a partir da década de 1970, houve a “decadência” das área central de João Pessoa. Tal processo foi comum nas grandes e médias cidades brasileiras e bastante estudado por Flávio Vilaça (1998) que afirma que a “decadência” ou “deteriorização” dos centros urbanos tradicionais se deu pela mobilidade das classes mais abastadas, que neles residiam, para outras áreas adjacentes, em um percurso que, nas cidades litorâneas, foi aos poucos direcionado para a orla marítima. Inserida nesse contexto, a Avenida João Machado, bem como diversas ruas residenciais localizadas na área Central de João Pessoa, vão perdendo seu uso residencial em detrimento do uso comercial e de serviços.

Figura 5 – Mapa de uso do solo da Rua João Machado em 1930.Fonte: Pesquisa Documental e trabalho de campo. Elaboração Própria.

Tal quadro pode ser verificado a partir do levantamento das edificações realizado na pesquisa de campo, onde pode-se ser demonstrado o uso e a ocupação atual desta rua, através de um gráfico (Figura 5) e da Figura 6. Percebe-se o resultado de todas as mudanças ocorridas na mesma desde sua ocupação inicial até os dias atuais. A partir da análise do gráfico e do mapa nota-se que o uso predominante nessa via são os serviços e o comércio. No geral, são voltados à assistência técnica a eletrônicos, cabelereiros e clínicas. O uso institucional é também muito significativo, é nessa via que se encontram importantes instituições como o Fórum Civel, o Forum Criminal,

Igreja N. Sr. de Lourdes

Grupo Escolar Isabel Maria das Neves

Recorte da Planta da Cidade da Paraíba de 1923

algumas escolas e instituições de saúde.

60

52

50 40 30 21

18

20 10 0

Série1

Série1

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1

1

Comer./Servi ço

Instituição

Ruína

Imóvel sem uso

Residência

Terreno

Praça

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Figura 5 - Gráfico do Uso do solo da Avenida João Machado. Fonte: Trabalho de campo realizado em Novembro de 2009.

O número de residências, se desconsidermos os dois conjuntos de edifícios multifamiliares, é baixo. Essa diminuição de residências nesta rua é reflexo da valorização de outros espaços de morar, a princípio a Epitácio Pessoa, a partir dos anos cinquenta do século XX, e depois a orla marítima. Esse processo vem rapidamente se intensificando, a prova disso é a quantidade significativa de imóveis sem uso nesta artéria. É muito comum andar por essa via e se deparar com anúncios de “Vende-se” nas paredes de vários imóveis. Um fator agravante desse fato é o intenso fluxo de veículos que por ela passa todos os dias, já que se tornou uma das principais vias de acesso entre o Centro da Cidade e um dos corredores de acesso aos bairros da zona sul da cidade, o corredor D. Pedro II.

Figura 6 – Mapa de uso do solo da Avenida João Machado. Fonte: Trabalho de campo realizado em novembro de 2009. Elaboração própria.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em linhas gerais, as transformações ocorridas na Avenida João machado fez com que ela deixasse e ser lugar das relações sociais do cotidiano, passando a ser espaço de consumo, como afirma Ana Fani Carlos: "O cotidiano hoje se empobrece no sentido

em que cada vez mais ele está subordinado ao mundo das mercadorias, onde os sinais de status permeiam as relações, e o valor de troca subjulga e captura o sentido do uso”(CARLOS, 2001, p.64). Assim, as transformações no uso do solo revelam as profundas mudanças sociais, culturais, morfológicas e do cotidiano da referida via. Além disso, é um exemplo significativo do processo de “decadência” ou de “deterioração” da área central de João Pessoa-PB.

REFERÊNCIAS

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Notas

1

A pesquisa “A Rua na Cidade Histórica: Cotidiano e Espacialidade” tem por objetivo estudar as transformações espaço-temporais das ruas localizadas na Cidade Histórica de João Pessoa – PB, sob a perspectiva da Geografia Urbana Histórica, coordenada pela professora Dr.ª Doralice Sátyro Maia. Todo material documental utilizado neste artigo foi coletado por ocasião da participação na pesquisa enquanto Bolsista PIBIC/CNPq, entre 2005 e 2009.

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